A construção da identidade: imagem idealizada x imagem real

A formação da nossa identidade baseada na autoimagem levam muitos anos para ocorrer, e permanece em crescente transformação ao longo da vida. 

Foto: Antoine Beauvillain / Unsplash

Foto: Antoine Beauvillain / Unsplash

Mas, primeiro, vamos a definição do que é autoimagem. Ela pode ser entendida como um “espelho interno”, refletindo o que você pensa, sente e vê sobre si mesmo. Assim sendo, é a descrição que a pessoa faz de si mesma. 

Então, essa imagem é multifatorial: social, biológica, cultural, genética e experiências de vida. Além de tudo, essa imagem já foi construída antes de você nascer, mas está presente no imaginário dos pais. Como uma idealização de seus pais, que projetam inconscientemente, ou até de forma consciente, uma expectativa que tem para você. A projeção cultural e social também estão incluídas nesta expectativa.

A criança então, em sua formação e dependendo de como é criada, de como funciona o dinamismo familiar, incluindo experiências escolares e sociais; ela pode crescer acreditando que não é capaz de ser amada pelo que ela é ou não acreditando ser suficientemente boa para os outros. É nesse momento que ocorre a formação de uma imagem ideal (idealizada). E essa criança, ao amadurecer, pode procurar, às vezes de forma desesperada, se igualar à uma imagem que criou dentro dela, de como ela deveria ser. O início pela busca dessa imagem se inicia, de forma inconsciente. 

Independente de circunstâncias específicas, quando criança, existiu uma doutrinação, com recomendações sobre a importância de ser bom, aceito, perfeito. E todas as vezes que o comportamento não correspondia a essa “diretriz”, de alguma forma, ocorria um castigo. Com a sensação de perder o amor dos pais, o esforço para se tornar essa pessoa boa e perfeita, cria-se mais uma vez essa imagem idealizada (ou “falso eu”, como algumas teorias psicológicas chamam).

Esse “falso eu”, ou imagem idealizada, toma a frente. E a tentativa de se tornar essa imagem vira um sofrimento, uma tentativa artificial de cumprir algo que não existe, como um escudo de proteção. Até que por um tempo pode funcionar e obter méritos por agir de uma forma ou de outra desse jeito “ideal” , mas não se sustenta por tanto tempo, porque não é real. Por ser um disfarce. E assim começam as frustrações, o auto engano, a superficialidade, e comportamentos destrutivos (abuso de substâncias, entre outros).

A autoimagem idealizada impõe altos padrões morais, fazendo que tudo fique mais difícil.

E pior, toda vez que fracassar, se castigará, se sentindo um fracasso total. Muitas crises pessoais surgem desse fato. Da briga, do conflito, entre a imagem idealizada e a imagem real (a verdadeira, que a pessoa esconde).

Outra consequência dramática desse problema é o afastamento sempre crescente em relação ao verdadeiro eu (imagem real). O eu idealizado (imagem idealizada) é uma falsidade, uma imitação rígida, construída artificialmente. Até pode ser revestida de muitos aspectos de seu eu real, mas continuará sendo uma construção artificial. 

Essa descoberta é dolorosa, mas possibilita reavaliar a postura frente ao mundo e, assim, ajuda a tornar o verdadeiro eu, com suas imperfeições e características.

O desejo verdadeiro de melhorar leva a aceitar a própria personalidade como ela é. Esta tem que ser a premissa básica, que será a força orientadora para a motivação de descobrir seu verdadeiro eu (imagem real). Com isso, existirá uma visão objetiva de si mesmo, e isso o libertará. Assumindo então total responsabilidade pelas atitudes imperfeitas de si, sem medo e receio do castigo. 

Pergunte a si mesmo em que áreas particulares o verdadeiro eu se manifesta. Quais causas e efeitos estão relacionados à ele. Aceitar as deficiências desse aspecto negado em si, caberá dizer: “Não sou o meu eu idealizado.”

Vale a pergunta: “Quem eu sou realmente?”. Pergunta essa que gera tantos conflitos e discrepância. Porém isso ocorre justamente pela “briga” entre o eu verdadeiro e o falso eu.

Esse processo é lento, gradual e algumas vezes, existe um retrocesso, pois você está retirando uma armadura que construiu ao longo da vida. E olhar para seu eu verdadeiro pode ser muito dolorido sim, mas é libertador, e muito necessário para ter uma vida mais plena, e de acordo com sua verdade.


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Camila Jacob

Graduada em psicologia pela PUC Campinas, há 16 anos. Especialista em Treinamento em Psicoterapia Breve Psicanalítica, pela Unicamp. Atuou por 10 anos, como Matriciadora de Saúde Mental na Rede Pública. E trabalha com Psicoterapia, há 16 anos, em consultório próprio.