Estar na Pele da Ana: Página 07

Estive pensando sobre as nossas conexões, ou ao que estamos conectados.

Vejo todos tão conectados, porém, quase não vejo mais os que se conectam, os que se olham nos olhos, que se escutam atentamente sem estar com um dos olhos atento às notificações do celular e me pergunto: para que tantos likes? Tantas expectativas e ansiedades geradas em torno de algoritmos?

É claro que com o isolamento social que temos vivido nos últimos anos, a tecnologia e sua vasta rede de comunicação nos ajudou e muito a estarmos informados do mundo lá fora e isso foi essencial para nos mantermos “perto” de quem amamos, mas também tenho visto muita gente adoecer mentalmente com toda essa chuva de informação e expectativas que tudo isso traz. Essas observações me fizeram refletir no quanto estamos preparados para tudo isso? No quanto a nossa mente está preparada para viver tudo isso, e cheguei a conclusão de que não estamos tão bem preparados. Após quase dois anos vivendo toda essa conexão online e tão pouca conexão pessoal, nos vejo frágeis, e fragilidade não está ligado a algo ruim, e sim ligado às nossas emoções, ao nosso desejo de estar perto, a dor da saudade, da distância, desse movimento humano que fazíamos diariamente, que é o partilhar. Partilhar uma ideia na hora do almoço com os amigos de trabalho, partilhar nossas angústias ou anseios após um dia difícil, partilhar uma breja no bar com amigos, partilhar o dia a dia que acontece fora da nossa casa. 

Me senti muito fragilizada diversas vezes, não apenas pelos meus próprios processos internos, mas também por ver nossa sociedade viver essa fragilidade. Senti a dor dos que partiram, mesmo sendo desconhecidos, porque a dor do outro também dói na gente quando temos empatia.

Tive o privilégio de poder ficar em casa, trabalhar de casa. Pude descobrir muito sobre mim, me visitar com mais calma e atenção. Aprendi a pedir ajuda, mesmo que essa ajuda seja só ligar pra alguém e chorar sabendo que tem alguém do outro lado, isso faz tanta diferença que nem consigo expressar em palavras.

 Sempre pensei que ser frágil era o mesmo que ser fraca, mas entendi que ser frágil e demonstrar fragilidade é um ato de coragem e que cura muito mais do que tentar ser forte e não sofrer minhas dores. 

Dividir com o outro minhas angústias, dores e medos, e também acolher a fragilidade do outro quando necessário, me fez ver o quanto nos apoiar, cuidar um do outro, ser atento ao desabar do outro nos ajuda gradativa e diariamente a ter uma saúde mental melhor, porque não adianta eu fazer minha terapia, meditar, comer bem, fazer exercícios e tudo mais só pensando no meu bem estar, porque sei que se tudo à minha volta estiver sofrido, isso vai me doer também. Passei a cuidar mais dos meus amigos e deixei eles cuidarem mais de mim também. Dei mais atenção a minha companheira e ela a mim. Falei muito mais com a minha família, e isso é um mínimo, mas é o meu “mundo”, infelizmente não posso ajudar o macro, mas acredito que cuidando do meu “mundo”, e se cada um cuidar do seu micro mundo, conseguimos ajudar o macro.

Cuidem mais dos seus “mundos”, e permita-se também ser cuidada, acolhida. Dividir as angústias, os medos, as alegrias, os desejos nos cura um pouquinho a cada dia.

O bem estar da nossa mente não acontece de uma hora pra outra, mas sim um dia de cada vez, um pouquinho por dia, que às vezes parece nada, mas acredite, cada pouquinho é muito.

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Ana Cardoso

Apaixonada pela vida. Rir e fazer rir é uma boa dose de terapia da felicidade. Quando rimos, damos ao cérebro um momento de pausa, para viver apenas aquela sensação.  Escrever me liberta, me conecta a minha constante metamorfose, me ajudando a entendê-la melhor a cada dia. Quando compartilhamos o que sentimos, ou vivemos, estamos de alguma maneira nos curando. O amor pra mim é a melhor e maior escolha para um mundo melhor.