Mais vale um covarde vivo, do que um valente morto!

Eu começo este artigo com uma expressão: A boca fala do que está cheio o coração. - Lucas 6:45; que define a escolha da força de caráter deste mês: Bravura, que faz parte da virtude coragem.

Este mês foi um mês de conquistas e vitórias, realizei feitos que até ontem eram tidos no âmbito do impossível, mas com treino, disciplina, constância e bravura, consegui algo que vou compartilhar agora.

Foto: GR Stocks / Unsplash

Em abril deste ano comecei a pedalar, sem noção nenhuma do quanto esta decisão iria transformar a minha vida para melhor!

Eu sabia andar de bicicleta como uma memória da infância, mas pedalar como adulta, era algo novo pra mim. Corajosamente eu me movi em direção ao grupo de pedal noturno, por questões como segurança e pela possibilidade de aprendizado e cuidados.

Aqui um primeiro desafio: chegar sozinha a um grupo de pessoas que eu não conhecia ninguém, mas o objetivo deles era exatamente o que eu gostaria de trazer para a minha realidade, e assim eu fui com a cara e a coragem até os Lesmas Lerdas do ABC.

Nestes 5 meses eu fui me superando a cada dia, cada percurso eu vencia dificuldades de todos os níveis, e em agosto eu consegui os primeiros 3 dígitos: 104 km rodados! Eu me senti maravilhosa, empoderada, feliz e logo os colegas souberam da minha vitória, e me convidaram para dobrar a meta: 212 km pedalados até Aparecida do Norte, e o desafio foi concluído com êxito e sucesso!

Bravura me define, me enquadro nesta força que revela uma pessoa que não recua diante das ameaças, desafios, dores ou dificuldades, também reconhecida como valentia. A bravura vai além de ações heróicas demonstradas diante da morte, inclui posturas intelectuais (bravura moral), ou emocionais (bravura psicológica). A pessoa valente consegue superar as reações naturais ao medo e enfrentar situações sem hesitar.

As pessoas que possuem bravura são mais dispostas a lutar por aquilo que acreditam, possuem mais força física e emocional para superar desafios, obstáculos e problemas, pode sem hesitar, dar a vida para salvar outra pessoa, são indivíduos reconhecidos como fontes de inspiração para as pessoas a sua volta, assim como permite superar seus limites e reafirmar suas convicções.

Pensar sobre a bravura é considerar a valentia do indivíduo, que é capaz de enfrentar sem medo as adversidades, tem a postura decidida e luta por aquilo que considera o certo. Age de acordo com suas convicções, mesmo que seja incomum ou impopular. 

Bravura não é braveza!

Refletindo sobre esta força, você sabe dizer o que motiva sua bravura? Quais atitudes mais demonstram esta força? Você se considera uma pessoa com bravura? Em que situações considera que a sua bravura é fundamental? Como sua bravura influência as pessoas ao seu redor? O que sente quando as pessoas o reconhecem como uma pessoa valente e corajosa? 

Meu avô costumava dizer: mais vale um covarde vivo, que um valente morto.

Alguém de grande bravura e que está sempre disposto a superar obstáculos e lutar, custe o que custar, por seus objetivos, muitas vezes pode gastar energia demais, focando de forma exagerada em causas que não trarão nenhum benefício real para ele ou seu grupo social. Deste modo cria discussões e conflitos desnecessários apenas para reafirmar suas convicções, ao invés de buscar um entendimento pacífico.

Caso você se identifique com esta força de caráter, te convido a pensar ou até mesmo repensar, como tem utilizado a bravura.

Talvez sua valentia tenha lhe custado muito. Quantas brigas se dão pela bravura descabida, por demonstrações tolas de coragem que culminam em desgraças, quantas mortes ocorrem pelo ato de bravura. E se esta força for dosada, e se acovardar diante de situações perigosas, que colocam a vida de forma desnecessária em risco, seja o olhar do meu avô para o covarde que permanece vivo, enquanto o muito valente – morre, e com isto, tudo acaba. Vale a pena?

Faça de sua bravura um modelo a ser seguido e inspire através de seus exemplos; use sua bravura em prol do bem comum e não para impor suas convicções pessoais; direcione sua bravura para solucionar conflitos e não os alimentar; procure formas pacíficas de demonstrar sua bravura; use seu direito de expor suas convicções e demonstrar sua bravura, mas sem oprimir o direito do outro em fazer o mesmo.

Por mais louvável que sejam as causas e convicções pelas quais o indivíduo luta, isso se torna negativo quando limita o direito do outro em fazer o mesmo. Deste modo, muitas vezes um gesto de bravura pode se transfigurar numa postura radical e opressora e levar a consequências desastrosas como, agressões físicas e verbais. 

Este uso excessivo, revela ainda o perigo iminente de o indivíduo agir motivado inconscientemente por suas ideologias e não medir consequências para fazer valer sua opinião.

Por isso, para evitar exageros nas atitudes e ânimos exaltados é importante que a bravura seja usada para fazer assegurar os direitos e não apenas para reiterar e impor as opiniões de uma minoria.

Lembra que a bravura é uma das 24 forças de caráter, ela isolada pode causar danos irreparáveis, mas quando harmonizada com outras forças, traz equilíbrio para agir com coragem, sabedoria e prudência.

A vida é muito preciosa, para se colocar em frente a um tanque de guerra, mas quando um homem teve a bravura suficiente para este ato, foi a paz de parar o avanço dos tanques e salvar muitas vidas, a partir de colocar a sua em risco.


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Crystiane Faria Feijes

Uma profissional que olha para a mente humana: consciente e inconsciente, as relações intra e interpessoais, a família, a estrutura da formação da psique (traumas, sintomas, dores e doenças), as forças de caráter, saúde mental, sonhos, sucesso, sentido da vida, são assuntos recorrentes nestes 10 anos de atendimentos psicanalítico e sistêmico. E quanto mais ela se coloco a serviço deste algo maior, que envolve a todos nós, mais observa o universo brilhante, e ainda inexplorável que somos.