Há beleza no caos
Matt/ Unsplash
Certa vez, ouvi uma conversa em que um jovem relatava suas dificuldades a um homem, e a cada frase, ficava evidente suas angústias, suas dores e a complexidade da sua vida naquele momento.
O homem escutava com atenção, acolhia com respeito o desabafo do jovem, e ao término de seu relato, o jovem suplicava em seu olhar, algo que pudesse confortá-lo, foi então, que o homem perguntou: você acredita que exista beleza no caos?
O rapaz indignado, respondeu: claro que não.
O homem olhando em seus olhos, falou com firmeza: sim, existe beleza no caos, e somente é possível vê-la, se você for capaz de transcender, ir além, ultrapassar a realidade que acabou de relatar.
Aqui abro um espaço para escrever sobre esta virtude: Transcendência, que abarca as forças de caráter: apreciação da beleza (tema deste artigo); gratidão; esperança; bom-humor (alegria) e espiritualidade.
Quando falamos em transcender, é ir além do ego para alcançar um nível que é maior do que o EU, trata-se de integrar-se ao Universo, uma elevação, ampliação e fusão à algo maior.
“A força de caráter Apreciação da Beleza, refere-se à habilidade de encontrar, reconhecer e ter prazer na existência do bom no mundo físico (ambiente) e social (talento e virtude nos outros), assemelha-se a reverência, na observação da grandeza da vida e do outro.”
Quantos benefícios podemos sentir com esta força, ao olhar de forma mais sensível sobre o cotidiano, as pessoas, a natureza; contemplar com prazer, toda forma legítima de expressão humana; admirar as diferentes formas de expressão da beleza e diversidade, que proporciona ao indivíduo experiências emocionais únicas, com um sentido maior as relações interpessoais e uma interpretação mais aprofundada e positiva dos acontecimentos diários, além de ser útil na forma de ressignificar problemas e sentimentos negativos.
A capacidade de fazer leituras diferenciadas do ambiente, conseguir ver beleza no caos, muito além das dificuldades, enxergar algo bom, coisas bonitas, não é ao acaso, que a esperança faz parte desta virtude, é uma habilidade digna de nota, ver além dos problemas e decidir pela ótica de ver o melhor cenário nas adversidades.
Retomando a narrativa, o homem descreve um cenário de caos ao jovem, e através da metáfora do lírio no pântano, ensina algo precioso: mesmo diante do improvável, nasce uma flor, seja no pântano ou no brejo, o lírio consegue se manifestar, e em meio ao caos, aquela flor branca, revela a possibilidade de transcender as dificuldades e se fazer presente, sem se contaminar com o ambiente.
“Apreciação da beleza é para aqueles que conseguem ver o lírio, focar no belo, contemplar a expressão natural, para além do pântano.”
Você é capaz de perceber como esta força influencia em seu estado emocional no dia a dia? O que te leva a crer que sabe apreciar a beleza de forma plena? O que sente quando presencia manifestações de beleza? Você tem um olhar diferenciado? Se tem, como seu olhar diferenciado influencia as pessoas a sua volta? Como esta força pode melhorar sua vida?
E que fique claro a profundidade desta força, não estou me referindo a superficialidade, falo da essência, que permite ao indivíduo ampliar sua visão de mundo.
Existe uma diferença entre ver e compreender estas manifestações da beleza. Aplicar os aprendizados contidos neste estado de contemplação, é promover os conhecimentos explícitos e implícitos, contidos em cada manifestação de beleza presenciada.
Te convido a exercitar esta força de caráter, para isto, sugiro que ouça o áudio da gravação deste artigo, e de olhos fechados, sinta a possibilidade de viver de forma consciente este recurso em sua vida.
Imagine que você agora ajusta seu olhar para apreciar a beleza, procure e encontre beleza no caos, aprenda tirar de suas experiências, lições que te auxiliem em sua rotina.
Lembre-se: a beleza está nos olhos de quem a vê, seja capaz de mostrar as pessoas ao seu redor como enxergar a beleza contida em diferentes aspectos, nas variadas situações.
Experimente olhar no espelho e ver a sua beleza, olhe com atenção, veja o seu interior e identifique o lírio dentro de você, em meio às dores e angústias, tenha a certeza, que existe a beleza de ser quem você é, honre isto em você.
Aproprie-se deste recurso, desta força e use para amparar-se de estímulos positivos em meio a tantas informações negativas.
Reconheça sinceramente a beleza das pessoas que estão próximas a você, nutra relacionamentos mais saudáveis, entregue com amor os elogios que é capaz de dizer, ao ver no outro o lírio interno.
Tenha consciência desta força, e saiba distinguir a criação de uma imagem romantizada de tudo ao seu redor. Caso decida agir desta forma, tenha certeza dos prejuízos que são causados pela alienação sobre a realidade à sua volta.
“Há beleza no caos, mas existe o caos, não se iluda quanto a esta verdade.”
Encontrar este equilíbrio é fundamental para que você consiga fazer uma análise genuína de sua realidade, das diferentes formas de expressão da beleza, e principalmente para evitar surgimento de novo caos.
Esta força refere-se à excelência, elevação, admiração, contemplação e talvez seja possível você sentir estes estados sublimes, no estado de Savoring (capacidade de saborear, apreciar, desfrutar e valorizar as experiências positivas da vida no momento presente).
Que tal contemplar o arco-íris após a chuva? Ou sentir os pingos da chuva, tocando sua pele? E comer um chocolate de olhos fechados, percebendo e sentindo derreter em sua boca? E observar a criança brincando em seu mundo imaginário?
Fico curiosa para saber das suas descobertas, e na torcida para que veja a beleza que se manifesta ao seu redor, e mais do que isto, que você seja capaz de apreciar o lírio no pântano.
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Crystiane Faria Feijes
Uma profissional que olha para a mente humana: consciente e inconsciente, as relações intra e interpessoais, a família, a estrutura da formação da psique (traumas, sintomas, dores e doenças), as forças de caráter, saúde mental, sonhos, sucesso, sentido da vida, são assuntos recorrentes nestes 10 anos de atendimentos psicanalítico e sistêmico. E quanto mais ela se coloco a serviço deste algo maior, que envolve a todos nós, mais observa o universo brilhante, e ainda inexplorável que somos.
Existem histórias que começam antes mesmo do primeiro encontro. Histórias que se escrevem nas faltas, nos vazios, nas tentativas de se reconstruir depois do amor que não deu certo. Estar à Procura é sobre isso: relatos de quem, de uma maneira ou de outra, busca aquela parte que está faltando — e tenta preencher o vazio que machuca.