A Importância e o papel do Sexo na busca pelo equilíbrio no contexto de Saúde Mental - Parte 2
Principais Riscos a Saúde Sexual e Mental
Jacqueline Day/ Unsplash
Os mitos – Falta de informação
Em muitas situações, as crenças difundidas sem o amparo científico, sem aprofundamento e experimentação, sem pesquisa, sem questionamento e sem vivência com relação ao sexo, faz com que muitos mitos se retroalimentem e cresçam, impedindo muitas pessoas de obterem prazer sexual com liberdade, segurança e profundidade, diversas ideias falsas sobre sexo e prazer foram passadas de geração em geração ao longo da história trazendo muita prejuízo a consciência e conhecimento coletivo no que se refere a sexo. Por décadas as mulheres com vagina, foram culturalmente e até cientificamente julgadas como “infantis e problemáticas” caso só estimulassem o clítoris quando adultas, e não priorizassem o prazer através da penetração por exemplo. Essa é uma das crenças difundidas pela psicanálise de Freud que ficaram restritas ao falo masculino, ou seja, ao pênis, ideia que posteriormente foi revista através de novas pesquisas e obviamente pela vivência e participação das mulheres com vagina na construção do próprio entendimento social, psicológico e físico-sexual até mesmo no contexto psicanalítico. Ainda assim vivemos em uma sociedade em que o prazer feminino é um grande tabu.
Outro mito que é importante citar é o de que pessoas que se consideram assexuais não necessariamente possuem desejo, quando assexual é uma orientação sexual e não pessoa incapaz de fazer sexo, para algumas pessoas que se identificam dessa forma por exemplo proporcionar prazer para as parceiras ou parceiros ja é o suficiente, e diversas outras formas que as pessoas nessa condição de orientação sexual podem obter e proporcionar prazer que não seja a penetração e o ato sexual em si.
Baixo autoestima – Falsos Padrões
Uma das principais causas que impedem as pessoas de buscarem parceiros sexuais, e até mesmo as fazem crer que não são dignas de obter prazer a ponto de negligenciar o desejo e a vontade de fazer sexo, é a baixo autoestima. Resultado de uma padronização social da ideia de beleza única e restrita a quem tem um corpo específico, aptidão sexual específica, pele específica, genitália específica entre outras falsas exigências, características e expectativas, as pessoas que não correspondem a tais características podem sentir que estão à margem e acabam por sabotar sua vida sexual se reprimindo não só sexualmente, mas também afetivamente. Geralmente quanto mais grave a baixo autoestima mais a pessoa fica vulnerável a formas prejudiciais de obter prazer e afeto por parceiros tóxicos e comportamentos disfuncionais que se alimentam dessa vulnerabilidade ficando ainda mais reprimida.
Autossabotagem – Crenças Disfuncionais e Burnout
Sabotar-se sexualmente não está restrito a baixo autoestima, também pode estar ligada a estafa, desequilíbrio emocional e burnout sem necessariamente ser baixo autoestima. Para quem tem o desejo e reprime por conta de trabalho, cansaço, ou qualquer exceção que se instala tirando o espaço da dinâmica em que o desejo é contemplado de forma saudável, leva a pessoa a não considerar o sexo como parte importante do seu funcionamento pessoal e da sua saúde física e mental no dia a dia. Esse comportamento dificulta o alcance da homeostase e do equilíbrio físico e mental, impedindo a compreensão de si mesmo por conta do provável crescimento de irritabilidade, impaciência e rigidez promovidos pela estafa e cansaço excessivo e atrapalha as relações amorosas e interpessoais como um todo mesmo que seja um funcionamento quase sempre inconsciente.
A pornografia - Principalmente o consumo excessivo
A pornografia pode parecer uma coisa simples, comum e inofensiva, mas pode ser muito prejudicial causando muitas inferências em como nós vivenciamos a libido, e nos relacionamos com o nosso desejo por conta da facilidade, da padronização dos corpos, da precarização e objetificação do sexo.
As categorias, as superproduções, a falsa ideia de beleza e prazer, são pontos de atenção importantes para reconhecermos os limites dessa relação de prazer com a pornografia. É importante não se restringir, apesar de ser um estímulo rápido e até poder ter uma participação positiva na auto estimulação, a pornografia vem tomando o espaço da imaginação, limitando as pessoas a não buscarem o prazer de outras formas, e causando certo atrofiamento do desejo, levando muitas vezes as pessoas a preterirem a prática sexual. Até mesmo em videos “amadores”, o sexo e o prazer podem estar reproduzidas como um estímulo qualquer, podendo levar ao imaginário de quem consome o conteúdo a negligenciar e deturpar o seu real desejo sexual por dependência e vício, risco a saúde mental de qualquer pessoa, mas gravíssimo a quem ja tem tendência a compulsão por exemplo.
Ansiedade e Depressão - e outras doenças da mente
Pessoas com alto grau de ansiedade e pessoas depressivas como em todo o contexto de seu diagnóstico tem a vida sexual amplamente afetada, principalmente se não estiverem em tratamento. A queda brusca de libido ou nervosismo excessivo durante o ato sexual, são consequências explícitas da provável presença de algum distúrbio sexual ligado diretamente a ansiedade, já a falta de interesse que se instala por muito tempo, sentimento de tristeza ao pensar em sexo, resistência e rigidez a oportunidades de obter prazer são mais prováveis de estarem associados a depressão. Ambos necessitam de tratamento, acolhimento e compreensão, a consciência e aceitação são passos iniciais para um caminho mais saudável nessas situações.
“Às vezes nós também racionalizamos, quer dizer, tentamos mostrar a nós mesmos, e aos outros, que temos outros motivos para fazer o que fazemos em certas situações, e não revelamos os reais motivos que nos levaram a agir de certa maneira, simplesmente porque eles são constrangedores demais”
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João Vitor Borges
Psicólogo Clínico e Social. Escreve textos e reflexões gerais com ênfase em comportamento social e saúde mental.
Existem histórias que começam antes mesmo do primeiro encontro. Histórias que se escrevem nas faltas, nos vazios, nas tentativas de se reconstruir depois do amor que não deu certo. Estar à Procura é sobre isso: relatos de quem, de uma maneira ou de outra, busca aquela parte que está faltando — e tenta preencher o vazio que machuca.