A mente e os ciclos femininos

Por Isabel Marçal, Instituto Bem do Estar

A puberdade para as meninas é marcada por uma série de fatores: crescimento dos seios, aumento da quantidade e engrossamento de pelos, mudanças no formato do corpo. Mas um elemento acontece de forma praticamente imperceptível aos olhos dos outros: a menarca. O primeiro sangramento representa o começo da vida reprodutiva da mulher, o que significa que a partir dele existirá ovulação e, na ausência de fecundação do óvulo liberado, haverá descamação do endométrio. 

Traumas, dores, autoconhecimento, liberdade e várias outras questões estão enraizadas nesse tema. Não nomear a menstruação, substituindo a palavra por “estar naqueles dias”, “estar de chico”, “regras”, significa tornar invisível um fenômeno fisiológico e recorrente e ainda alimentar mitos e tabus que impactam diretamente a saúde da mente das pessoas que menstruam.

Por que falamos tão pouco, próximo ao nada, sobre algo natural como a menstruação?

Essas são algumas das questões abordadas na pesquisa Ser mulher cis: a mente e os ciclos femininos, conduzida pela NOZ Inteligência em parceria com o Instituto Bem do Estar e a Educadora Menstrual. 

Transformações da vida costumam trazer muitas dúvidas, não é mesmo? O mesmo se passa na menstruação, afinal como pudemos notar durante a pesquisa, algumas mulheres enfrentam a falta de informação diante de algo tão comum para elas. Apesar do aumento, e da facilidade de obter informação, isso não quer dizer que tudo que lemos é verdadeiro. Nos relatos coletados é possível acompanhar a solidão que muitas mulheres viveram em seus ciclos menstruais, em especial pela falta de interlocução no ensino, nas amigas e também dentro de casa. A pesquisa mostra que 43% das mulheres entrevistadas disseram que a relação com seus ciclos menstruais é negativa. 


Em entrevista exclusiva para o e-book da pesquisa “Ser Mulher”, Úrsula Maschette, pesquisadora nas áreas de saúde mental, sexual e reprodutiva, pontua que compreendemos a menstruação como algo vergonhoso e vivido em silêncio, indo na contramão da apropriação e empoderamento desse corpo que menstrua. Portanto, isso trará uma série de impactos, não apenas na autoestima e confiança dessas pessoas, mas em escolhas de saúde de um forma geral, sobretudo na saúde emocional. 


Nessa diversidade de cenários de conhecimento e desconhecimento com a menarca, é visível que as mulheres entrevistadas apresentam suas mães como fonte de amparo e informação para a chegada do ciclo menstrual. Ainda assim, permanecem muitas as perguntas: o que será que determina a relação dessas mulheres com o seu corpo a partir do que é ensinado a elas sobre seu próprio ciclo menstrual? O que será que essas mães viveram, ou não, que as possibilitou passar ou não passar conhecimento a suas filhas antes da menarca? Quais os efeitos disso no afeto que essas mulheres desenvolvem com o próprio sangramento? Essas perguntas, infelizmente, abrem espaço para criação de estigmas em torno da menstruação, impactando a saúde da mente das pessoas que menstruam.




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ISABEL MARÇAL é especialista em gestão de projetos sociais; possui 19 anos de experiência no setor de Impacto Social, à frente da gestão de organizações. Possui formação em Psicologia Positiva e facilitação em grupos. Atualmente cursa Psicanálise e é presidente e cofundadora do Instituto Bem do Estar. Apaixonada pela vida, seres humanos e suas relações, sonha com uma sociedade mais saudável e justa, por isso, acredita que o primeiro passo esteja na consciência individual de cada ser humano.  



SOBRE O INSTITUTO BEM DO ESTAR | Fundado em 2018, por Isabel Marçal e Milena Fanucchi, o Instituto Bem do Estar é um negócio social sem fins lucrativos, voltado à promoção da saúde da mente. Com o propósito de desafiar as pessoas a mudar o próprio comportamento em relação à saúde da mente, a organização colabora com a prevenção de doenças psicológicas e contribui para uma sociedade mais consciente e saudável. Para tal, possui três objetivos que visam à transformação social necessária a uma sociedade que está em falência emocional: CONSCIENTIZAR, informa a população sobre os cuidados para uma saúde da mente de qualidade, estimulando a busca pelo autoconhecimento e o despertar da empatia por meio de conteúdo digital, campanhas de conscientização, mostras e exposições culturais; CONECTAR, promove experiências do cuidado com a mente, proporcionando ferramentas que contribuem com o desenvolvimento socioemocional, individual e coletivo, por meio de atividades práticas, como vivências, workshops e palestras, além da divulgação de locais de atendimento terapêutico gratuitos ou por contribuição consciente; MOBILIZAR, envolve o contexto sobre saúde da mente e o impacto na sociedade, gerando estatísticas e articulando agentes públicos e privados, visando ao acesso a políticas públicas via pesquisas e práticas de advocacywww.bemdoestar.org


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