Ser Mulher e as transformações através dos ciclos

Luis Paico/ Unsplash

Quando refleti sobre o que escrever, de forma condicionada, pensei em primeira instância sobre o processo menstrual e tudo que envolve este período cíclico que nós mulheres vivemos.

Algo pertinente ao universo feminino, será?

De forma biológica, sim, é no corpo da mulher que este processo se manifesta, todo mês é isto: menstruar, viver os dias de sangramento, depois a sensação maravilhosa de desinchar, sentir-se mais magra, bonita, com tesão, e chega o período fértil, atenção com os cuidados para evitar a gravidez, ou foco total para engravidar, e começa novamente o período de tensão pré menstrual, irritabilidade, vontade de chocolate, seios inchados, corpo dolorido, para algumas as pernas, outras a lombar, a dor de cabeça, ou a tristeza, o choro fácil, a sensibilidade aflorada, os sentimentos hiper dimensionados e sangue de novo, e para muitas, um luto, a desova do óvulo não fecundado.

São 4 fases, que necessariamente não acontece no ciclo do mês, para algumas a menstruação ocorre até duas vezes no mesmo mês, e todo este processo natural do feminino, é ao mesmo tempo, uma saga em que os anos passam, e ainda assim, parece ser a cada mês, algo surpreendente.

Algumas mulheres decidem acabar com o sangramento e interrompem este fluxo natural do feminino, é uma escolha, que como toda decisão, traz suas consequências. 

Outras mulheres decidem viver o que se manifesta em seu corpo, e aprender o que precisam aprender com este processo menstrual, e todas nós somos livres para fazer as nossas escolhas, mas como uma reflexão, o quanto desta decisão de não menstruar, é num nível mais profundo, a negação do feminino?

Eu não tenho uma pesquisa, apenas uma percepção dos atendimentos psicoterapêuticos que realizo, e na amostragem do meu consultório, estas mulheres apresentam como pano de fundo, uma relação adoecida com a mãe, e de alguma forma, negar a menstruação, o feminino que assim se manifesta, é a própria negação materna – o útero.

É só um ponto de vista, que pode ou não, te levar a refletir.

Considerando que esta hipótese seja validada, o quanto da própria decisão em não mais menstruar, já revela uma menstruação dolorosa, com cólicas fortes, que expressava o mal-estar na relação com feminino?

Esta é uma linha de pensamento, mas existem muitas outras.

Este quadrante da menstruação, faz analogia com as 4 fases da lua: nova, crescente, cheia e minguante, as 4 semanas do mês, as 4 estações do ano, as 4 fases do desenvolvimento humano: criança, adolescente, adulta e idosa, os 4 ciclos da prosperidade: declarar, solicitar, arriscar e agradecer, os 4 arquétipos fundamentais: visionária, guerreira, mestra e curadora, os 4 perfis comportamentais: comunicadora, planejadora, analista e executora, e tantas outras teorias a partir do pensar em quadrante.
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Abri a janela para trazer estes quadrantes, na intenção de ampliar o pensamento, que poderíamos filosofar e correlacionar os assuntos a um ponto comum, mas vou voltar ao foco da menstruação. 

Na pergunta que fiz: a menstruação é algo do universo feminino? Também, porque tudo que acontece conosco, as mulheres, também impacta e afeta o masculino. 

O homem cis não menstrua, mas convive com as mulheres, e não importa o nível da relação, se é de forma direta ou indireta no agora, todo homem partiu do ventre de uma mulher, e conhece o universo feminino de uma forma muito profunda.

mesmo que seja inconsciente, todo masculino habitou o feminino.
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Assim, como toda mulher que gerou um filho em seu ventre, conhece a força do masculino, acolher este sêmen carregado de espermatozoide, ao óvulo que abrigamos em nosso útero, e dizer sim a vida que se manifesta em si mesma, na cocriação da divindade humana: um novo ser vivo. 

Isto me toca. É extraordinário a vida que se manifesta, e as mulheres junto aos homens, damos continuidade a tudo que foi, e a tudo que será, por meio de cada um de nós, um filho e uma filha que geram um filho e/ou uma filha, e a vida em seu fluxo contínuo do existir, tem suas leis, sua ordem e sua forma de se manifestar.

Nesse ciclo da vida, nascer, crescer e morrer, tudo isto só é possível pela menstruação! Não estou romantizando, sei muito bem dos desafios que vivemos, mas é assim, simplesmente é assim que é, e talvez aqui esteja a dor, a cada menstruação vivemos o fim de um ciclo, a morte de um óvulo, aquele que não se tornou vida.

Muito além dos hormônios alterados, que a própria medicina constata, e podemos sentir as alterações em nosso corpo, no humor, no comportamento, ainda assim, não sabemos explicar o que de fato sentimentos e como somos acometidas por este processo, nos solidarizamos, porque de alguma maneira compreendemos que algo profundo se manifesta, e acolhemos.

Eu como mulher, acolho você, me importo com suas dores, me alegro com suas conquistas, torço por suas vitórias, rezo para o seu bem-estar, saúde e proteção, te quero bem, desejo que restabeleça seus laços de afetos, que conviva com pessoa queridas, que desfrute de prosperidade e abundância, que cure suas dores, que o feminino e masculino sagrados que pulsam e vibram em você se manifestem em harmonia, e que sua menstruação flua naturalmente, que seu útero seja um berço de energia, criatividade e se você decidir tornar-se mãe, que a menstruação dê lugar a nova vida que surge dentro de você, a partir de você mulher. 
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Crystiane Faria Feijes

Uma profissional que olha para a mente humana: consciente e inconsciente, as relações intra e interpessoais, a família, a estrutura da formação da psique (traumas, sintomas, dores e doenças), as forças de caráter, saúde mental, sonhos, sucesso, sentido da vida, são assuntos recorrentes nestes 10 anos de atendimentos psicanalítico e sistêmico. E quanto mais ela se coloco a serviço deste algo maior, que envolve a todos nós, mais observa o universo brilhante, e ainda inexplorável que somos.