O desejo sexual e as medicações psiquiátricas

Falar sobre sexualidade ainda é um tabu para muitas pessoas, seja por questões culturais, religiosas, sociais ou até biológicas. Mas você sabia que a sexualidade é extremamente importante para nossa saúde física e mental? Sabia que ela influencia diretamente nossas vidas diariamente? Por isso é fundamental darmos mais espaço para discussões sobre a sexualidade e buscarmos maior autoconhecimento, prazer, satisfação e bem-estar para nossas vidas. Neste artigo vou abordar um aspecto muito importante da nossa sexualidade, a libido e suas alterações relacionadas a medicamentos. 

Toa Heftiba / Unsplash

Assim como a sexualidade, a libido possui diversos conceitos e significados, indo muito além do prazer ou do ato sexual. Ela passa por temas como nossas vontades, nossos desejos íntimos (não só sexuais), nossa identidade e propósitos. Mas hoje vou falar da libido como o puro desejo/vontade/apetite sexual.

Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo. 

Alguns medicamentos, principalmente aqueles relacionados ao tratamento de transtornos mentais, também podem alterar nossa libido. Na grande maioria das vezes ocorre uma diminuição da libido, ou seja, uma menor vontade e apetite sexual. Isso acontece porque alguns medicamentos interagem com hormônios, neurotransmissores e outras substâncias que regulam nossa libido. Essas alterações podem aparecer nas várias etapas do nosso apetite sexual, como na ereção, na lubrificação dos órgãos genitais, na manutenção do prazer e no orgasmo, o clímax da relação sexual. Isso não necessariamente contraindica o uso de algum remédio, mas é muito importante alertar ao médico caso essas alterações ocorram, pois uma vida sexual saudável, como dito acima, é fundamental para o nosso equilíbrio biopsicossocial e espiritual. Além disso, o médico pode trazer alternativas para o tratamento desses efeitos colaterais, como a troca do medicamento, a associação com um novo remédio ou a diminuição da dose, se possível. Vale lembrar que a alteração da libido é uma das maiores causas de abandono do tratamento em saúde mental, o que pode prejudicar ainda mais a pessoa doente, com risco de piora do seu quadro emocional e trazer ainda mais complicações no futuro. Por essas razões é importante vencer o tabu e discutir mais sobre nossa sexualidade, entendendo que ela faz parte essencial de nossas vidas.

Abaixo listarei algumas medicações que podem apresentar a alteração da libido como efeito colateral:

  1. Antidepressivos: sertralina, fluoxetina, paroxetina, venlafaxina, escitalopram, amitriptilina, entre outros.

  2. Antipsicóticos: haloperidol, clorpromazina, risperidona, olanzapina, quetiapina, entre outros.

  3. Estabilizadores de humor: ácido valpróico, lítio, pregabalina, entre outros

  4. Ansiolíticos: clonazepam, diazepam, alprazolam, entre outros.

  5. Medicações não psiquiátricas: anti-hipertensivos (beta-bloqueadores, losartana), anticoncepcionais, anti-testosterona (queda capilar), entre outros. 

ATENÇÃO! Os organismos das pessoas são diferentes entre si, então, se alguém que você conhece teve perda de libido com algum medicamento, isso não quer dizer que você também terá esse problema. 

E por último, mas muito importante, caso você sinta alteração da libido devido a algum desses medicamentos, NÃO PARE SEU USO! DISCUTA ISSO COM SEU MÉDICO OU PROFISSIONAL DE SAÚDE. A INTERRUPÇÃO DO TRATAMENTO SEM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PODE TORNAR A SITUAÇÃO AINDA PIOR!

Falar sobre sexualidade é falar de saúde física, mental e espiritual! Já chegou a hora de deixarmos o tabu nas sombras e trazer à luz uma das partes mais íntimas do nosso ser.
Boa descoberta a todos!


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Dr Ricardo Jonathan Feldman

Psiquiatra no Centro Feldman de Saúde, fundada em 2012, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no Residencial Israelita Albert Einstein e professor na Pós-Graduação de Psiquiatria do HIAE, atua no diagnóstico, tratamento e ensino dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.