Saúde mental e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: os desafios de um futuro mais saudável e inclusivo
| A saúde mental é uma dimensão fundamental do bem-estar humano e deve ser abordada de maneira abrangente na busca pelos Objetivos do Milênio da Agenda 2030. A inclusão da saúde mental nas discussões e ações relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é essencial para construir um futuro mais saudável, equitativo e sustentável. Passou da hora das sociedades contemporâneas reconhecerem a importância da saúde da mente e trabalharem em conjunto para garantir que ninguém seja deixado para trás nessa jornada rumo a um mundo melhor para todos.
Por Camila Kneip
A saúde mental é um direito humano, de acordo com a Organização Mundial da Saúde. No entanto, o Brasil enfrenta uma realidade alarmante no que diz respeito à temática. Nossas classificações globais revelam uma situação preocupante: somos o país com a mais alta prevalência de ansiedade em escala mundial, e lideramos os casos de depressão na América Latina. Apenas 2% dos orçamentos nacionais de saúde – e menos de 1% de toda a ajuda internacional – são dedicados à saúde mental.
No relatório da OMS de 2018, a análise é que "todos esses números são muito, muito baixos", de acordo com Mark Van Ommeren, da divisão de saúde mental da organização. Mas, essa situação não é uma prerrogativa unicamente brasileira, uma vez que a área de saúde da mente é negligenciada em todo o mundo; subvalorizada e incompreendida, recebe uma ínfima parte da atenção e dos recursos necessários, levando à subnotificação de doenças e transtornos e dificuldades no acesso ao tratamento adequado. O resultado disso é que alcançar e manter uma boa saúde mental se tornou um desafio para muitas pessoas, grupos, comunidades, instituições e lideranças governamentais.
Uma das conclusões óbvias é que a saúde da mente é uma questão cada vez mais relevante nas sociedades contemporâneas. À medida que avançamos em direção a um futuro mais igualitário e sustentável, é essencial abordar os desafios relacionados à temática e integrá-los aos propósitos dos Objetivos do Milênio estabelecidos pelas Nações Unidas (ONU). A Agenda 2030 é um plano de ação global, para atingirmos em 2030 um mundo melhor para todos os povos e nações, adotado pela ONU em 2015. Composto por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), visa enfrentar desafios globais urgentes, como pobreza, fome, desigualdade, mudança climática e acesso à saúde. E como não há saúde sem saúde mental, estes temas estão intrinsecamente conectados.
Vale lembrar que a saúde da mente afeta todas as áreas da vida e está interligada com diversos aspectos dos ODS. O ODS #3 (Saúde e Bem-Estar), por exemplo, reconhece a importância de promover o bem-estar mental como parte integrante da saúde geral. Mais especificamente, mas não unicamente, o objetivo 3.4 preconiza que até 2030 devemos reduzir em um terço a mortalidade prematura por doenças não transmissíveis via prevenção e tratamento, e promover a saúde mental e o bem-estar.
Além disso, o ODS #4 (Educação de Qualidade) destaca a necessidade de promover ambientes escolares seguros e saudáveis, incluindo apoio psicossocial adequado para estudantes. E existem metas que não são específicas mas abordam questões relacionadas. Um dos exemplos está no ODS #1 (Erradicação da Pobreza), que busca garantir proteção social para todos, incluindo acesso a serviços de saúde mental para populações vulneráveis. E no ODS #5 (Igualdade de Gênero) que destaca a importância de abordar as desigualdades de gênero na perspectiva da saúde mental e garantir serviços de qualidade para todas as pessoas. Por sua vez, o ODS #17 alerta para a importância de fortalecer a implementação dos outros 16 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável por meio da colaboração entre governos, setor privado, sociedade civil e organizações internacionais. O reconhecimento da importância das parcerias é fundamental para enfrentar os desafios complexos e interconectados que a Agenda 2030 propõe. No contexto da saúde mental, as parcerias são essenciais para ampliar o acesso a serviços de qualidade e garantir que ninguém seja deixado para trás.
“Para alcançar esses objetivos, é necessário promover a conscientização e ações efetivas em relação à saúde mental. Isso inclui o fortalecimento dos sistemas de saúde da mente, a redução do estigma e da discriminação associados a doenças e transtornos mentais e o fornecimento de acesso equitativo a serviços de saúde mental de qualidade.”
A promoção da saúde mental requer esforços conjuntos de governos, organizações não governamentais, setor privado e sociedade civil. A colaboração entre diferentes setores é fundamental para desenvolver estratégias eficazes, compartilhar recursos e experiências, e garantir a implementação bem-sucedida de políticas e programas voltados para a saúde da mente.
Em última análise, a saúde mental é uma dimensão fundamental do bem-estar humano e deve ser abordada de maneira abrangente na busca pelos Objetivos do Milênio da Agenda 2030. A inclusão dessa temática nas discussões e ações relacionadas aos ODS é essencial para construir um futuro mais saudável, equitativo e sustentável. É hora de reconhecer a importância da saúde da mente e trabalhar em conjunto para garantir que ninguém seja deixado para trás nessa jornada rumo a um mundo melhor para todos.
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Camila Kneip
Pós-graduada em Gestão Pública, com mais de 12 anos de experiência em ações socioeducacionais e advocacy no setor de Impacto Social. Com formação em Psicologia Positiva e técnicas tântricas neoreichianas, a profissional é gerente de Projetos e Parcerias do Instituto Bem do Estar.
Existem histórias que começam antes mesmo do primeiro encontro. Histórias que se escrevem nas faltas, nos vazios, nas tentativas de se reconstruir depois do amor que não deu certo. Estar à Procura é sobre isso: relatos de quem, de uma maneira ou de outra, busca aquela parte que está faltando — e tenta preencher o vazio que machuca.