Seja curioso
Curiosidade é uma força de caráter muito interessante, sua potencialidade é garantia de uma vida mais ampla, repleta de soluções e com uma visão ampliada do mundo, além de colaborar para as relações humanas.
Uma pessoa curiosa tem necessidade de conhecer novas coisas, explorar, investigar, aprender, observar, experienciar, buscar respostas, estudar, e sua mente é inquieta, repleta de questionamentos, e normalmente ocorre desde a infância.
Foto: @hansonluu / Unsplash
Recordo-me claramente quando minha mãe me dizia: chega Crystiane, pelo amor de Deus, você me deixa maluca com tantas perguntas, você é a rainha dos porquês, que tanto você quer saber?
Minha mãe ficava brava com os meus questionamentos, cada pergunta respondida, gera novas ideias, dúvidas, outras perguntas surgiam, e naquele tempo não existia o google, era consulta aos livros da biblioteca, aos adultos e aos professores, mas eram perguntas para além da sala de aula, eram perguntas de como o mundo funcionava, como as pessoas pensavam, se existiam de verdade aquelas coisas dos filmes de terror, como Jesus sabia o que eu estava fazendo...
Desde os 5 anos eu estudo, e confesso que ainda tenho perguntas sem respostas, mas eu continuo buscando compreender o que move as pessoas, e assim me torno uma profissional do desenvolvimento humano, sou curiosa o suficiente para querer saber como uma pessoa pensa, cria sua realidade, sua forma de ver e interagir com a vida, como segue suas filosofias, enfim aprendi que ser curiosa é maravilhoso!
A curiosidade permite expandir, crescer, saber algo novo e considero um presente quando uma pessoa compartilha algo do seu mundo comigo. Imagina alguém que sabe muito de um assunto, passa a vida se dedicando aquele conhecimento e você tem a oportunidade de conversar com ela, e de repente ela te presenteia com anos de estudo em uma conversa em que o melhor que sabe chega até você, isto é extraordinário.
A curiosidade é a possibilidade do mais, enquanto o julgamento é limitante, escasso, mantem o indivíduo no mesmo ponto, apenas com o que sabe, é como uma estrada, em que você só olha para o lugar onde anda, enquanto o curioso olha além do caminho, e vê as matas, os bichos, as flores, o céu, e tudo se amplia, como na metáfora da corrida do coelho que apenas corre, enquanto a tartaruga desfruta e vive o correr e percebe que o melhor não é a chegada e sim o caminho que leva até chegar.
Você já deve ter ouvido o ditado popular “a curiosidade matou o gato”, e sabe a origem desta expressão?
Na Idade Média, muitos gatos eram executados por estarem associados às bruxas. Para isso, colocavam armadilhas que acabavam aguçando a curiosidade dos felinos. Sim, a pessoa curiosa demais, ultrapassa o limite saudável do querer saber para aprender, e chega ao ponto da invasão do espaço referente ao outro.
Agora, o que quase não se fala, é que o ditado tinha também uma resposta: “a curiosidade matou o gato, mas a satisfação o ressuscitou”, mostrando que descobrir a verdade compensa os ditos males da curiosidade.
Dentro deste contexto, reflita o quão curioso você é, e como a sua curiosidade colabora para seu autoconhecimento, satisfação pessoal, felicidade, saúde, longevidade, bons relacionamentos, desenvolvimento de habilidades, aprimoramento e novas competências.
Como é delicioso quando encontramos alguém curioso para conversar, que tem interesse real no que estamos falando, não porque quer saber o que faço ou deixo de fazer, mas pela oportunidade de ganhar esta gota de oceano em si, e desta maneira o seu mar interior se agiganta, seu repertório se expande e a mente fervilha em novas possibilidades de interação com a vida.
O curioso escolhe novas aventuras, deseja trilhar outros caminhos, tem um ímpeto natural de se colocar para as novidades, sua mente fica em êxtase, porém encontrar o limite e o equilíbrio para não perturbar as pessoas ao seu redor é importante.
A curiosidade exagerada pode levar a distrações, e os objetivos e metas podem se perder, assim como um ambiente centralizador e autoritário, podem reprimir e desestimular este comportamento, afinal ter as perguntas respondidas com cala a boca e fica quieto, podem inibir esta força e coibir a natureza curiosa.
Bom senso e equilíbrio, é sempre uma boa receita!
Saber o momento de explorar e o momento de frear, de explorar e de focar, de cumprir os combinados, mas também perceber se a falta de engajamento é um excesso de rotina que captura o indivíduo do que acontece ao seu redor, e por isso, a pessoa não enxerga a vida de forma ampliada, só vê problemas e não consegue pensar em solução.
A mente curiosa tem muitas possibilidades e responde às questões da vida de maneira inusitada, fora do padrão, e cria possibilidades que a maioria não ousaria mencionar, mas quem não fuça, mexe e remexe, não percebe que muitas vezes se trata apenas de começar algo novo, para saída dos velhos problemas.
Acredita: seja curioso, vale a pena ver a vida de outra ângulo, ainda que sejam os mesmos problemas, se a sua visão modificar por sua mente expandida, este novo olhar vai fazer toda a diferença, é sinal que você caminhou mais alguns passos no caminho da solução, com compreensão, para além dos julgamentos. Parabéns por ser curioso!
***
Crystiane Faria Feijes
Uma profissional que olha para a mente humana: consciente e inconsciente, as relações intra e interpessoais, a família, a estrutura da formação da psique (traumas, sintomas, dores e doenças), as forças de caráter, saúde mental, sonhos, sucesso, sentido da vida, são assuntos recorrentes nestes 10 anos de atendimentos psicanalítico e sistêmico. E quanto mais ela se coloco a serviço deste algo maior, que envolve a todos nós, mais observa o universo brilhante, e ainda inexplorável que somos.
Existem histórias que começam antes mesmo do primeiro encontro. Histórias que se escrevem nas faltas, nos vazios, nas tentativas de se reconstruir depois do amor que não deu certo. Estar à Procura é sobre isso: relatos de quem, de uma maneira ou de outra, busca aquela parte que está faltando — e tenta preencher o vazio que machuca.