Estar na Pele da Mariana: Página 02

Ei, você voltou! Que bom! Como está por aí?

Por aqui estou numa correria doida que nem sei ao certo do quê ou para onde, mas consegui um espaço mental para finalmente te dar a atenção devida.

Escrevo porque me faz sentir bem e me ajuda a organizar meus pensamentos. Para isso preciso me conectar com meus sentimentos primeiro e aí... não queria sentir muito por agora, não.

Também tenho andado um pouco distraída porque estava me divertindo, não vou mentir. Já reparou que quando a gente está se divertindo a gente nem lembra que teve um momento ruim? Quando a gente está contente nem pensar que está contente a gente quer, né, Gil? Aliás, uma ótima música para escutar... quando se está contente.

No entanto, apesar de estar bem, outro dia tive uma crise de ansiedade um tanto forte. Daquelas que tensionam o corpo, quase que querendo contorcer as pernas e o intestino, sabe? Aí, quando você se dá conta, perdeu o senso de realidade ao redor, a respiração fica curta, a mente acelera e, ai meu deus, vou desmaiar. Que sensação bosta, viu?

Há alguns anos venho tentando driblá-la e até que às vezes consigo. Falo de uma pessoa que aquelas técnicas de controle de ansiedade, como identificar, tatear, blábláblá, as coisas ao redor já não são o suficiente há tempos.

Lembro do exato momento em que quebrei uma crise com o “simples” poder da minha mente. Foi logo depois de uma sessão de terapia pandêmica, quando lamentava o fato de não conseguir sair do estado ansioso e não aguentar mais ter 2/3 crises de ansiedade por dia.

Falava ao meu terapeuta que não aguentava mais este sentimento, quando ele lançou a braba: Mariana, ansiedade não é um sentimento, é um sintoma de um sentimento. Uaaau, uma explosão mental! Mas... como assim?! Este troço está dentro de mim, eu o sinto no meu corpo, me paralisa e molda toda e qualquer atitude que tenho perante a vida.

Algumas noites depois, perdida na insônia ansiosa, uma crise aterradora veio. Já estava exausta. Os dias eram todos iguais, me sentia presa num corpo fisicamente desconfortável pela quantidade de peso que perdi tão repentinamente, dores no estômago por não conseguir comer nada e ao mesmo tempo descer café goela abaixo. Uma mente cíclica, pulando de galho em galho o tempo todo em pensamentos que só pioravam a dor no estômago e os maxilares inchados e doloridos de tanta pressão dos dentes (lembrete de amiga: relaxe o maxilar).

A crise veio e me pegou num mau dia (ou bom? A esta altura do campeonato nem sabia mais). Mas eu não estava a fim. Então me veio à cabeça o que meu terapeuta disse e pensei: se isto não é um sentimento, que raio de sentimento desgraçado é esse que está me fazendo enfrentar o inferno na terra?!

Decidi investigar. Fui toda policial mesmo, com bloquinho de notas e tudo. E, apenas para contribuir com a sua imaginação, estava deitada no quarto escuro, completamente raivosa por estar passando por aquilo de novo. Sentei-me na cama e falei “vem, desgraça”. 

Imagine o seguinte cenário: um lugar totalmente escuro (imagina mesmo, o cenário era na minha mente), com várias portas brancas das quais, cada uma que eu abrisse, me dariam um motivo para tudo aquilo. Fui abrindo uma por uma, achando cada medo terrível lá dentro que, aarrgh, fecha a porta agora!!

Eu estava com medo! Bichinha, toda apavorada... 

Recentemente tinha perdido meu pai, veio uma pandemia DOIDA, eu fiquei mais doida do que já era, minha gatinha faleceu logo em seguida e, meu deus!! Vai todo mundo morrer! Eu vou pegar covid, minha mãe vai pegar covid e morrer também, meu irmão sobreviveria mas, socorro, eu já passei tanto perrengue com este garoto que não quero ter que passar por isso de novo. 

Fui com calma. Listei e racionalizei cada medo. Conforme ia conversando com eles, via que não era esse bicho de 7 cabeças todo e, confesso, todos eram relacionados a situações impossíveis de controlar.

Outro assunto muito recorrente na terapia à época eram as fantasias ligadas à ansiedade. Como os nossos medos e inseguranças ficam grandes na nossa cabeça. Um sentimento negligenciado cria raízes profundas dentro da gente. Leva um tempo para entender o que está acontecendo ali, quais são as conexões, o que é real e o que é fantasia. É preciso muito pé no chão e coragem. Natural que queiramos evitar.

E, para isso, criamos vários escapismos. Muito mais fácil entrar nas redes sociais para se distrair, tomar um porre ou se afundar em trabalho, e por aí vai. Não estou julgando, tá? Até, porque, adivinha?! Esta coluna é sobre mim.

Além do mais, eu sou super a favor dos escapismos. São nestes momentos também que a gente se diverte, não é? A vida é dura, cara! Não dá para enfrentar tudo o tempo todo. E, de fato, a gente não tem tempo para isto e estas coisas levam tempo.

Agora, meu ponto crítico aos escapismos é que chega um momento que a água bate na bunda e tudo transborda. Para mim, o primeiro sinal de que está para transbordar, é quando meu sono e minha alimentação se desregulam (pensando aqui que são 2 e meia de manhã agora, não estou conseguindo dormir e o dia todo somente coloquei para dentro o almoço e, bom, bastante café. Hmmmm... risos de nervoso).

O corpo nos avisa. Hoje vejo a ansiedade como um estado de curto-circuito. Evito algo ao ponto de estressar o corpo e a mente até que exploda. Concluí que não teria outro jeito senão cutucar a ferida, por mais doloroso que seja e que nos leve ao ponto de querer simplesmente desaparecer do planeta terra.

Falo isso por experiência, mas lembrando que tudo aqui é apenas a minha percepção da minha vida. Então, se não bateu, joga fora. Se bateu, pega que também é seu. Mas pega com carinho, sabe? Cuida, analisa, investiga e depois vai chorar. Está tudo bem, a gente chora junto.

Até a próxima?

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Mariana Calvão

Sou carioca, nascida e criada na zona norte, onde morei por 30 anos. Hoje estou morando pelo mundo, onde me faço e refaço, deixando e recebendo um tanto por onde passo, e levando comigo a certeza de que muito pouco eu sei, mas sempre à procura de um sorriso meu e daqueles que me permitiram os amar.