Que a busca pelo natural e libertação dos padrões opressores de beleza não nos distancie do belo

Ontem estava assistindo a uma sequência de stories no Instagram sobre uso de filtros de forma constante, realização desmedida de procedimentos estéticos e a banalização disso no Brasil. 

Era uma amiga, mulher de uns 40 e poucos anos brasileira que mora na China comentando sobre a relação com o corpo e padrões de beleza estipulados em diferentes sociedades (Brasil, EUA, China e Europa). Ela a maior parte do tempo não usa filtros, não pinta seu cabelo já com partes brancas e defende uma vida mais minimalista e natural. Chegou a dizer “quantos livros poderíamos ler no tempo que semanalmente fazemos as unhas?”.

Quando ela abriu uma caixinha perguntando outras opiniões, eu rapidamente concordei com o que ela dizia de como é preocupante a relação com o corpo que vemos no Brasil (e não só) hoje: padrões de beleza acima da saúde, desprezo pelo natural e falta de reconhecimento do envelhecimento como algo orgânico e com muitos pontos positivos como o ganho de experiências e amadurecimento. Eu particularmente vejo o uso constante de filtros e edições como algo que cria referências distorcidas na nossa mente, mesmo que racionalmente saibamos que aquela imagem foi alterada. 

Foto: Milada Vigerova / Unsplash

Tenho 29 anos e por muitas vezes me peguei achando minha pele ruim, minha testa marcada, até que aprendi a reconhecer uma pele com “Botox” e coloquei essa comparação em um lugar mais leve e justo. 

Mas o meu ponto aqui, e que muito me fez refletir, é a que extremo podemos incorrer na tentativa de ir no sentido oposto ao artificial e padrões de beleza opressores? Podemos viver com menos. Não precisamos estar belas o tempo todo. Podemos não nos depilar nunca mais. Não usar cheiros. De fato, podemos tudo. Mas até que ponto convém? Até que ponto o que seria benéfico em nome de liberdade não danifica nossa autoestima e capacidade de apreciar o belo? 

Para ficar mais claro meu ponto, vou ilustrar com o que vejo com relação às casas aqui no Canadá. Você não precisa ter flores, jardins e enfeites na sua casa. Isso vai te dar trabalho e tomar tempo que você poderia investir na leitura ou em outras atividades consideradas mais edificantes. Mas qual o impacto de chegar em casa depois de um dia difícil no trabalho e se deparar com um lindo jardim cuidado com todo amor pela sua família? Até que ponto não afeta positivamente nossa saúde caminhar em uma vizinhança arborizada, florida e com enfeites que te surpreendem, te fazem se assustar, dar risada? A mim e a minha família isso faz muito bem e tem um grande impacto em nossa saúde mental.

A ciência também já comprovou o impacto do ambiente em nosso bem-estar.

Agora traga isso para você. Qual o impacto de colocar uma roupa em que se sinta bonita e alegre? Que seja para ficar em casa. Que a cor na bochecha seja de sol. Que o brilho na boca seja de hidratação. Que a preocupação com a pele se mantenha, mas se reverta em alimentação saudável e rotina de atividades físicas. 

O belo é bom. Apreciar e buscar o belo de forma respeitosa e amorosa conosco e com a natureza faz bem. Desenvolve nossa sensibilidade e humanidade. Que nosso criticismo nos faça mais saudáveis e livres, nos permita questionar os padrões de beleza, mas não tire nossa capacidade de enxergar e apreciar o belo!     


Laura Amâncio Rezende

Fundadora da Happyness People Development. Encontrou na psicologia positiva uma ferramenta para construir um mundo mais saudável e mais feliz. Enquanto mentora indivíduos na busca das suas definições de sucesso e felicidade, vive na pele de uma esposa, empreendedora, vivendo no exterior.