Ser Jovem: Setembro Amarelo

Foto: Ahmed Nishaath / Unsplash

Minha relação com o suicídio foi algo que sempre me pareceu muito distante. Cresci em um ambiente rodeado por pessoas que sempre propagavam felicidade e aparentavam ter a vida 'perfeita'. Porém, conforme fui entrando em minha juventude, percebi que as coisas não eram bem assim. As pressões acadêmicas estavam cada vez mais intensas, e assim os sorrisos nos rostos de meus colegas foram desaparecendo. Sono foi sendo perdido com noites viradas por estudos, refeições foram puladas, e dias de festa foram cancelados. Quando parei para ver, nada estava igual.

Aos 15 anos me deparei com um primeiro suicídio. Meu relacionamento com tal aluna não era próximo, não tínhamos muita intimidade, mas um evento desses marca qualquer um por perto. Foi aí que percebi que aquela realidade paralela de depressão, tão longe de mim, estava na verdade cada vez mais perto. A vida que víamos como sempre colorida, para alguns tinha perdido sua cor.

Ao lidar com o choque de ter perdido um conhecido ao suicídio, resolvi me abrir aos meus pais. Sempre ouvi que a melhor forma de liberar angústia era conversando sobre, mas nunca levei tão a sério. Descobri, então, que são em momentos de desespero que devemos estender a mão e pedir ajuda, mesmo que seja por meio de um desabafo. Nenhum sentimento é inválido, mesmo que pareça pequeno quando dito em voz alta.

Na correria acadêmica, a tristeza deste acontecimento uma hora teve de ser reprimida, pois o mundo não pára por nós, mesmo nós parando enquanto vivemos nele. Por ter guardado minhas mágoas numa gaveta, acabo me encontrando pensando na época em que via aquela aluna andando pelos corredores. Nunca podia imaginar que a mesma tiraria sua própria vida depois. 

A maior reflexão, que carrego, é que nunca sabemos o que se passa nas intimidades do próximo. A menina que se senta do seu lado na aula de matemática e estampa um grande sorriso no rosto pode estar passando por coisas indescritíveis, enquanto a outra que nunca dá risada pode ter realizado seu maior sonho.

Em vez de tentar julgar, precisamos abraçar todos ao nosso redor e criar um ambiente onde ninguém se sinta sozinho.  Mesmo muitas vezes exigindo muita força para aceitar, a vida é linda. Todos, todos mesmo, merecem desfrutar e aproveitar os dias na terra ao máximo.

Busque ajuda, ninguém solta a mão de ninguém.

Manu :)



***

Manu

Vivo a vida questionando tudo ao meu redor e procurando melhorar o que pode ser melhorado. Amo arte e tudo sobre. Nada demonstra sentimento como ela. Desde quadros a desenhos, o universo artístico me fascina. Estudar sobre a saúde mental sempre foi um interesse meu. Lidando pessoalmente desde que me conheço como gente com questões relacionadas a isso, sempre soube que queria me relacionar mais com o assunto. Nunca mergulhei profundamente nessa vontade, mas assim que descobri o Instituto Bem do Estar tudo isso mudou! Acredito que cuidar da alma, da cabeça e do coração é essencial para uma vida leve e feliz, e através dessa coluna, estou mais do que feliz de dividir isso com vocês!