Estar na Pele da Daniele

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“Liderança Humanizada: uma aliada para a promoção da Saúde Mental”

“Eu pifei!” Essa foi a frase que eu disse ao meu chefe quando não consegui mais esconder que eu não estava bem, após parar em uma emergência com a pressão alta e uma arritmia cardíaca que me assustaram. Fui a médico, fiz inúmeros exames, mas nada foi detectado.

Durante muito tempo, eu me orgulhei por dar conta de tantas demandas no trabalho, sem saber muitas vezes como eu mesmo conseguia. Ser a funcionária modelo, que não admitia em hipótese alguma ser cobrada por alguma entrega, que sempre ficava até altas horas na frente do computador, atendendo prontamente todas as ligações e respondendo todas as mensagens quase que em tempo real, me custou caro, muito caro!

Os sinais de que as coisas não iam bem eram evidentes e já vinham há tempos, crises de ansiedade, insônia, dores de cabeça frequente, irritabilidade, sensação de vazio, falhas de memória e uma falta de energia que eu nunca tive, mas eu neguei, logo eu, psicóloga de formação, ignorando os pedidos de socorro que meu corpo pedia. Era uma demanda infinita de trabalho somado a um ambiente de trabalho tóxico com uma cultura organizacional que não tolerava erros, lideranças egocêntricas, assédios, competitividade, zero segurança psicológica, enfim, o cenário perfeito para levar alguém a exaustão. Vi muitos adoeceram até chegar o meu diagnóstico de Burnout.

A partir da pandemia, a temática de saúde mental ganhou mais relevância, não há como negar, afinal, o mundo não passou por qualquer coisa em 2020. Hoje, 5 anos depois, esse tema está mais presente nas empresas, mas ainda estamos engatinhando no assunto, há um longo caminho a ser percorrido. É visível a resistência que as pessoas encontram para falarem que elas estão adoecendo ou até mesmo que já estão adoecidas. Isso por inúmeras razões: medo de perder o emprego, demonstrar suas vulnerabilidades, sofrer retaliações no trabalho, questões financeiras, familiares, enfim, são muitos os motivos. 

Por outro lado, encontramos lideranças e empresas com pouca ou nenhuma habilidade para lidarem com questões tão subjetivas. Gestores que entregam ótimos resultados, mas a qualquer custo, ainda que para isso precisem “deixar corpos pelo caminho”. Definitivamente não dá mais para pensar ou negócios (lucros e resultados) ou pessoas. É um e o outro! 

Num mundo cada vez mais complexo, acelerado, tecnológico, vai se destacar quem souber falar a linguagem da sensibilidade, empatia, inclusão, respeito e sobretudo bem-estar, extraindo o melhor de cada um. Essas características que atribuímos a tão falada liderança humanizada. E aqui vale ressaltar que liderança humanizada nada tem a ver com liderança permissiva, que deixa de cobrar e se impor quando é preciso. 

Enquanto os discursos batidos do mundo corporativo se resumirem “aqui somos uma família”, “ninguém solta a mão de ninguém”, “não toleramos assédio”, “eu não sou preconceituoso” não se transformarem em ações concretas de mudança, infelizmente ainda vamos ver muitas pessoas silenciadas por uma cultura que sobrecarrega, exclui, oprime e adoece. 

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Daniele Chaves Costa 
Psicóloga, mineira que escolheu o RJ para morar e é apaixonada por essa cidade, filha única, pisciana que ama a família, praia, pets, natureza, livros, escrita terapêutica, música e tudo que eu possa contribuir para um mundo melhor. Sempre tive certeza de que cursaria faculdade de Psicologia pois desde criança já era curiosa pelos mistérios da mente humana e brincava de ser psicóloga das próprias bonecas. Comecei minha carreira na clínica e 3 anos depois fiz minha transição para o RH. Após vivenciar na própria pele um Burnout, transformei dor em causa e hoje me dedico cada dia mais pelo tema saúde mental no trabalho.

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