Estar na Pele da Bruna

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Falando sobre culpa. Nós mulheres somos ensinadas o tempo todo a sentir culpa. Culpa pelos pais, culpa pelos filhos, culpa por ser “feia”, por ser “bonita”. A culpa é sempre nossa. E quando vivemos uma violência doméstica e um relacionamento abusivo a culpa é escancarada. “Foi você que escolheu. Por que você aceitou tudo isso?” “Você já sabia”.

Mas ninguém nunca quer saber o buraco que cobrimos com essas migalhas. Ninguém entende que apesar de tudo, talvez tenha sido a primeira vez que nos sentimos amadas de verdade. Comigo foi assim.

Eu sempre tive um mecanismo de defesa escancarado quando se trata de relacionamento. Duas estratégias principais: 1. Nunca se envolver com quem não tem sentimentos por você. 2. Se você se envolver. Pica a mula, paga de louca e faz uma merda sem chance de retorno.

E eu fiz isso com meu ex marido. Mas, depois de mais de 35 anos de vida e tendo aplicado essa estratégia com sucesso com tantos homens pastéis ou desinteressados por aí, ele foi o primeiro que não desistiu. Ele insistiu, investiu e quebrou TODAS  as minhas barreiras emocionais que eu achava que estariam me protegendo.

E foi por isso que, menos de 2 anos depois, eu aceitei ser subjulgada, mal tratada, violentada, humilhada e ao final, fisicamente violentada.

Não. A culpa não é minha. Nem sua. Nada justifica uma violência. Mas eu não deixei acontecer. Eu simplesmente não0 tinha recursos para impedir. Por que o meu medo de não ser amada era maior do que o meu desejo de ser. E o meu desejo de ser amada era maior do que o meu amor por mim mesma. E a culpa não é minha.

***

Bruna Ferreira

Advogada de formação, hoje gerente de projetos em tecnologia (onde os prazos são curtos e os cafés longos). Mãe do Luca — especialista em noites mal dormidas e amor incondicional. Sobrevivente de violência doméstica, transformando dor em força e ajudando outras mulheres a fazerem o mesmo. Sempre em busca de evolução (e umas horinhas de sono também).

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