A nova Era da Saúde Mental

A saúde física e a saúde mental nunca estiveram separadas no corpo humano. Elas funcionam em conjunto, como uma unidade, indissociável uma da outra. Quando a saúde física é afetada, a saúde mental também sofrerá e vice-versa. Porém, ao longo da história humana e por diversos motivos, a saúde física, aquela relacionada às partes do corpo, aos órgãos, às lesões teciduais, foi ganhando maior relevância e atenção da nossa sociedade. Ao contrário disso, a saúde mental, aquela relacionada à sensação de bem-estar, aos sentimentos, às emoções, aos diversos comportamentos e à felicidade, foi sofrendo uma desvalorização ao longo do tempo, tornando-se “secundária”, menos importante ou necessária.

Foto: Robina Weermeijer / Unsplash

Essa diferença na forma de enxergar saúde física e saúde mental é constatada facilmente nos dias de hoje. Observamos na dificuldade que temos em pedir ajuda por alterações mentais e de expressar o que estamos sentindo, na vergonha que se sente ao estar emocionalmente abalado, na demora da aceitação de uma condição mental e buscar por ajuda, entre outras diversas formas.

Essa cultura que inferioriza a saúde mental deu origem à psicofobia, que é o preconceito com pessoas que sofrem por transtornos mentais. A psicofobia é estrutural, assim como diversos outros preconceitos identificados atualmente. Ela prejudica individualmente cada pessoa, mas também conjuntamente toda a sociedade. Combater a psicofobia é uma obrigação de todos para um mundo melhor.

Durante a pandemia observamos uma certa mudança nesse paradigma. Obrigados a interromper nossas vidas abruptamente, isolados, tendo que lidar com mortes, desemprego, doenças e incapacidades, houve um aumento significativo nos casos de transtornos mentais. A maioria que já sofria por algum transtorno mental viu sua situação piorar, desestabilizar. Já muitos que nunca haviam passado por tal situação a experimentaram pela primeira vez. Dessa forma a saúde mental ficou “na boca do povo” e estava cada vez mais difícil de esconder ou de calar tais sofrimentos. Veja, não é que antes da pandemia existia menos sofrimento mental, é que antes nos silenciávamos e éramos silenciados muito mais pela forma que a sociedade enxergava a saúde mental, desvalorizada e sem importância real.

Assim, apesar de todas as tragédias relacionadas à pandemia, podemos dizer que ela deu uma nova oportunidade ao ser humano de olhar melhor para sua saúde mental e resgatar aquela ideia de unicidade entre o corpo e a mente para construir e viver uma vida mais plena.

O grande número de pessoas sofrendo emocionalmente após a pandemia é consequência das dificuldades enfrentadas nessa época, mas também pelo descaso e desvalorização que estávamos tratando a saúde mental por todos esses anos. Isso levou a escassez de profissionais da área, a dificuldade de acesso para tratamento, a falta de políticas públicas adequadas e a várias outras deficiências que aumentaram ainda mais o impacto do sofrimento mental na população.

Entender a importância do autocuidado, tanto da saúde física quanto da saúde mental, é fundamental para uma vida mais saudável e feliz. Olhe para o seu eu mais íntimo. Fale sobre suas angústias e seus sentimentos. Escute com atenção ao sofrimento emocional do outro. Procure ajuda sempre que necessário. Com essas atitudes estaremos trilhando um bom caminho para nossas vidas.


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Dr Ricardo Jonathan Feldman

Psiquiatra no Centro Feldman de Saúde, fundada em 2012, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no Residencial Israelita Albert Einstein e professor na Pós-Graduação de Psiquiatria do HIAE, atua no diagnóstico, tratamento e ensino dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.