Amor ao aprendizado

Desde pequena o hábito da leitura se faz presente em minha vida. O mundo dos livros é um lugar onde a imaginação ganha vida, e as letras formam um cenário particular, em que os personagens ganham rosto, as paisagens são criadas a partir de lugares que já conhecemos ou que pintamos de acordo com a narrativa do escritor.

Um romance, uma ficção, um conto, uma fábula, toda escrita ensina algo e toda história tem a sua moral, mas o grande poder está nas metáforas, em que cada um de nós extrai o que consegue perceber daquele compartilhar, e o interessante é que cada um de nós vê algo diferente da leitura que o outro fez. Os grupos de estudo ou clube do livro são espaços que permitem a rica troca da compreensão do texto e a amplitude do saber.

Foto: Priscilla Du Preez / Unsplash

Quando adentramos o universo escolar, muitos de nós simplesmente amam aprender, outros detestam, não gostam de ler, tem preguiça em escrever e se atém apenas ao mínimo necessário para passar de ano. Mas existem aqueles que têm a mente aguçada, curiosa e sempre querem aprender mais e mais assuntos distintos e ouvem com atenção as descobertas dos colegas, que estudaram e aprenderam algo diferente do nicho de interesse do outro.

Explorar informações, adquirir continuamente novos conhecimentos, aprender e dominar novas habilidades e ampliar as capacidades é uma escolha do indivíduo, podemos nascer com este desejo ou podemos escolher desenvolver esta aptidão. 

Importante ressaltar que o desejo pelo saber e aprender tem a curiosidade como base. Uma mente que anseia em explorar novos conteúdos, como as janelas que se abrem nas buscas no computador, uma aba leva a outra, caminhos de pesquisas e buscas, que quando percebemos de um assunto chegamos em outro que nem imaginávamos estar associado, mas que de alguma forma se conectam.

Assim fazemos no amor ao aprendizado, um estudo leva ao outro, uma curiosidade revela algo e na busca do saber e compreender - quantos de nós dedicamos uma vida a jornada acadêmica - e, desta forma, a ciência avança, com mentes brilhantes, aguçadas, dedicadas e com um desejo aprender, de descobrir algo nos caminhos do saber.

Há quem escolha um assunto e se dedica ao tema como um especialista, outros são generalistas, querem saber um pouco de tudo que envolve o assunto que agrada e desperta curiosidade, e tudo bem, afinal quem de nós em horas intermináveis de literatura técnica, costuma pegar um livro com enfoque completamente diferente para distrair a mente, inclusive revista em quadrinhos!

Aprender é um exercício para o cérebro, estimular a mente é prevenir doenças que afetam a nossa memória e nosso cognitivo. O repertório mental é construído dia a dia, com estímulos diferentes, e a boa e velha palavra cruzada é uma aliada ao desafio mental, que é burilado a cada enigma que se apresenta e forçamos a nossa cabeça a encontrar resultados, soluções, saídas. Isto é muito saudável.

O amor ao aprendizado oferece experiências positivas em relação ao conhecimento, o que possibilita ao indivíduo gozar de bem-estar psicológico e físico ao adquiri-lo. Quanto vale um comportamento moldado em sabedoria?

Esta força de caráter faz parte da virtude “sabedoria” e vai muito além de aprender algo (reter informação), conhecer determinado assunto, saber sobre tal conteúdo. A sabedoria é o ponto em que colocamos em prática o que sabemos. A teoria é vivenciada e a vida se torna de fato melhor, mais leve, fluida, prazerosa, divertida e as relações saudáveis são estabelecidas.  

O aprendizado está em tudo, livros, filmes, teatro, concertos, revistas, artigos, documentários, cursos, aulas, palestras, visitas a museus, exposições, bibliotecas, viagens e, claro, conversas -  A troca com o outro é fundamental!

Desenvolva um novo passatempo, seja um curso de culinária, dança, canto, meditação, ou explore mais profundamente um passatempo atual, leitura, ver filmes, tocar, praticar esporte, enfim, pratique algo novo ou faça de forma nova algo que já pratica. Faça isto por você, por sua saúde mental, cuide-se, jamais tenha preguiça ou economize no que for pertinente a você.

A subutilização desta força pode refletir especialmente numa falta de interesse no autodesenvolvimento, o que impacta na vontade de perseguir os próprios interesses e na falta de oportunidades pelo restrito arcabouço intelectual.

O oposto também pode causar prejuízos, pessoas cultas, com um intelecto amplo, podem muitas vezes causar a impressão de serem o sabe tudo, e o entusiasmo com o assunto preterido, lembrando que pode ser enfadonho ao outro, pode sobrecarregar as pessoas ao redor, causar aversão pelo monopólio na conversa, além de criar uma imagem de arrogante e de superioridade intelectual.

Como dois monólogos não fazem diálogo, um grande avanço para equilibrar esta situação é combinar elementos como curiosidade, generosidade e empatia. Assim é possível desenvolver uma conversa enriquecedora para as partes e saber o ponto de vista do outro sobre o assunto abordado, com perguntas que despertam o desejo do outro em saber um pouco mais, sobre o assunto de dominância do interlocutor.

Aquele que tem o conhecimento, pode compartilhar de diversas formas, para que o outro consiga compreender, mas também pode ser o suficiente para si mesmo, nem sempre aquele que um quer dizer, é o que o outro deseja ouvir, portanto olhe para pessoa com quem se estabelece o diálogo, e observe as pílulas das palavras se são a absorvidas em doses homeopáticas ou simplesmente refutadas. 

Respeite sempre a opinião do outro, respeite linha de interesse, da mesma forma que você quer compartilhar suas descobertas, o outro também deseja compartilhar o seu saber, e entre assuntos da NASA, e das receitas de bolo de família, o caminho percorrido é o respeito, afinal se trata de pessoas e todo ser humano é único e valoroso.


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Crystiane Faria Feijes

Uma profissional que olha para a mente humana: consciente e inconsciente, as relações intra e interpessoais, a família, a estrutura da formação da psique (traumas, sintomas, dores e doenças), as forças de caráter, saúde mental, sonhos, sucesso, sentido da vida, são assuntos recorrentes nestes 10 anos de atendimentos psicanalítico e sistêmico. E quanto mais ela se coloco a serviço deste algo maior, que envolve a todos nós, mais observa o universo brilhante, e ainda inexplorável que somos.