Metade dos transtornos mentais surge na adolescência

A depressão é o mais comum e, cerca de 80% dos casos, começam nos primeiros anos da vida adulta.

 

Metade do transtornos de saúde da mente surge antes dos 14 anos, mas os casos não são detectados, em sua maioria, só muito tempo depois, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).  Um relatório especial da agência sobre saúde do adolescente afirmou que os problemas de saúde mental, que não forem identificados e cuidados, poderão se transformar em um grande fardo para a geração de jovens mais numerosa da história.

Foto: Joanna Kosinska / Unsplash

Foto: Joanna Kosinska / Unsplash

O relatório alertou que entre 10% e 20% dos adolescentes sofrem de doenças que podem afetar sua saúde da mente, tais como: transtornos emocionais, ansiedade, psicose e autoflagelação. A depressão é reconhecida como um problema extraordinário: cerca de 80% dos casos começam na adolescência.

Se estes transtornos ficam sem tratamento, eles poderão se prolongar até a vida adulta, podendo influenciar na vida acadêmica, emprego, relacionamentos e até mesmo na paternidade ou maternidade
— Tarun Dua (Assessora da OMS sobre saúde mental)

A OMS apresentou recomendações e exemplos de atividades que podem ajudar a identificar o diagnóstico e o  tratamento desses transtornos. Estes incluem: assistências psicológicas autoguiadas ou de grupo, treinamento de algumas habilidades para famílias e escolas, programas comunitários de saúde da mente e iniciativas para prevenir o abuso de substâncias, autoflagelação e suicídio.

Tomás Baader, diretor da Alianza Chilena Contra la Depresión, afirma que a passagem da infância para a adolescência provoca "mudanças neurobiológicas, psicológicas e neuroadaptativas" que acontecem ao mesmo tempo que importantes transformações físicas e hormonais. Ele explica que, nos adolescentes, os sistemas para regular as emoções não estão totalmente maduros, o que os torna mais vulneráveis ​​a estímulos externos e internos.

Isso se agrava caso eles já tenham passado por situações negativas, como abuso sexual, fome, guerras e pobreza
— Tomás Baader

O relatório da OMS recomenda tornar os ambientes dos adolescentes mais seguros, especialmente se eles vivem em áreas já tomadas por conflitos, pobreza ou crime. Isso pode incluir falar sobre problemas de saúde da mente, ensinar professores a detectar sinais de depressão e criar programas de intervenção para jovens adultos vulneráveis.

Chiara Servili, assessora do Departamento de Saúde da Mente e Abuso de Substâncias da OMS, acredita que as escolas desempenham um papel importante em tudo isso. Mas, ela acrescenta que essas intervenções "também podem ser realizadas na comunidade, nas unidades de saúde ou através da mídia digital". O último recurso, que inclui intervenções na Internet, pode ser especialmente apropriado, diz a OMS, devido ao estigma associado a problemas de saúde da mente, que podem impedir que alguns jovens adultos peçam ajuda.

O estigma é uma das razões pelas quais os serviços de saúde da mente não estão bem desenvolvidos em muitos países, afirma o relatório. No entanto, acrescenta-se que as intervenções de saúde mental para os jovens devem ser cuidadosamente planejadas para "garantir que eles as aceitem e que elas sejam úteis".


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Artigo originalmente publicado no El País , livremente traduzido e adaptado por Mariana França.