Estar na Pele da Josi: Página 03

Toda vez que eu abro esse arquivo sinto vontade de chorar, mas acho que chegou a hora de falar de uma das coisas que me levaram a ter depressão, um dos motivos que depois de muita terapia eu consegui identificar. 

Falar sobre o luto não é uma tarefa fácil, falar sobre uma dor que machuca constantemente, uma saudade daquilo que teve e deixou de ter, de momentos que não voltam mais, de pessoas que não veremos mais. Eu passei por muitos lutos, foram perdas que me abalaram profundamente, mas quero falar de duas em específico, ou três já que uma é bem recente e tem relação com a primeira.

Acho que pode parecer bobeira, mas eu realmente fiquei mal por um artista que eu gostava muito ter falecido, ainda mais vítima de uma estatística triste, de algo que eu estava passando. Ele possuía seus motivos, provavelmente diagnosticado com depressão, tentava de tudo pelos outros e esquecia de si mesmo, um artista completo, um poeta e músico exímio; suas letras tocavam, seu sorriso aquecia corações e fazia a gente acreditar que tudo era possível.

No entanto, a notícia de seu falecimento veio como um balde de água fria, lembro que chorei como se fosse alguém próximo, e era, apesar da distância, ele ainda era próximo de todos os fãs. Os tratava com respeito e carinho, a sensação de sermos seus amigos era inevitável. 

Eu não sabia o que pensar, eu não sabia o que ao certo sentir e se eu deveria sentir tanto a falta de alguém que sequer sabia da minha existência, mas eu senti. Senti tanta dor, tanta revolta, haviam tirado alguém de mim, alguém que eu nunca mais poderia conhecer. O que restavam eram recordações e um último álbum, um trabalho impecável que eu demorei meses para escutar e chorei horrores durante.

Quando achei que tivesse superado, que tinha conseguido seguir em frente, minha vida estava se encaminhando, consegui um emprego e estava feliz nele, veio a pandemia e tudo começou a desandar, me sentia em alto mar, desamparada em meio a uma tempestade. Não havia para onde correr, nem fugir. 

Vi-me em casa, sem liberdade, com medo de perder mais alguém, com um medo exorbitante de ser eu a culpada por isso. Foi então que tudo piorou, eu não me sentia mais feliz, era uma tristeza constante, uma solidão que nunca terminava. A falta que a escola me fazia era dolorosa demais, ver os portões fecharem sem uma previsão para tudo voltar ao normal foi assustador. 

Eu fui atrás de ajuda, procurei me distrair, procurei meios que me trouxessem a realidade e me tirassem do buraco que estava, mas era uma luta que eu não tinha vantagem. Eu pensei em desistir, mas então eu escutava aquele álbum, eu procurava na escrita algo para me levantar.

Foram meses difíceis, foram dias sombrios. E eu poderia ficar me lamentando, apenas deitada esperando os dias passarem, mas eu sabia que no fundo ainda havia uma vontade de viver. Foi pelos meus amigos, pelos artistas que eu amo e por mim mesma que me levantei. 

A ideia desse texto surgiu depois de ouvir algumas músicas enquanto me refugiava da dor, e negava que novamente alguém tão incrível havia me deixado. Há muita coisa que não sabemos e muitas vezes deixamos passar detalhes importantes, coisas que poderiam fazer a diferença e só ignoramos. 

Quantas vezes deixamos de aproveitar momentos porque simplesmente pensar em algo que nem aconteceu é mais fácil? Colocamos empecilhos em nossa felicidade e deixamos de olhar para coisas que realmente nos fazem feliz, pequenos momentos, e mesmo que pequenos, ainda são momentos que deveriam ter nossa atenção.

São nos pequenos momentos que encontro forças para continuar, são através de ligações, de saídas para piqueniques ou só estar com as pessoas que eu amo, que eu encontro o verdadeiro significado de felicidade.

Perdas acontecem e são inevitáveis, mas não podemos deixar que elas se tornem tudo o que nos resume. Respire fundo, feche os olhos e foque em você, seus sonhos, seus objetivos, suas conquistas. Ninguém é triste para sempre, há felicidade em fazer algo que gostamos, há felicidade em chegar onde queremos, há felicidade em sermos livres.

Mesmo que as águas estejam agitadas, haverá um tempo de calmaria, e sempre passaremos por momentos difíceis para nos fortalecermos ainda mais, por isso chore, grite, ria, viva! Você não está sozinho e nunca estará. 

Eu digo isso querendo me fazer entender que estou rodeada de pessoas que querem ver o meu bem, por mais que o sentimento de solidão me assombre. Vai ficar tudo bem, é só um dia tempestuoso, amanhã o sol brilhará tão lindo quanto seu sorriso.


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Josi

A professora que busca ser amiga de seus alunos, aquela que não aparenta a idade que tem, porque permanece com a alma de criança. Sou a Josi, escrevo desde 2014 e encontrei na escrita o meu refúgio, foi através dela e de meus personagens que me descobri, me desbravei e me apaixonei por mim mesma.

Espero que através de minhas palavras você encontre um abraço caloroso e um conforto, que se questione e te deixe reflexivo, que te entenda de alguma forma, e que possa se apaixonar por si mesmo como aconteceu comigo.