Estudo revela desafios da comunidade LGBTQIAPN+ nas diferentes regiões do Brasil
O Projeto Pajubá lançou neste mês um estudo inédito, fruto do trabalho realizado por ONGs da comunidade LGBTQIAPN+ nas cinco regiões do país, revelando uma realidade de desafios, violência, conservadorismo e pouco apoio financeiro.
O Estudo ouviu mais de 90 ONGs que relatam um contexto precário e muito fragilizado de uma população extremamente vulnerabilizada. Sem o trabalho realizado pelas ONGs, uma grande parte da população LGBTQIAPN+ não teria acesso a políticas públicas e direitos essenciais.
Após o mapeamento e diagnóstico do estudo, o Projeto Pajubá inicia uma nova etapa de consultoria oferecendo a formação de lideranças, o que auxiliará a gestão e a captação de recursos com maior autonomia e sustentabilidade.
Foto: Marianna Smiley / Unsplash
Segundo o estudo, na região Norte os dados relativos à detecção de Aids são alarmantes, onde quatro dos cinco estados com as maiores taxas de infecção da doença do Brasil estão nessa região. Outra questão preocupante encontrada é a baixa escolaridade e a falta de acesso à educação, que fica bem atrás da média nacional. A violência também é uma triste realidade de cidades como Manaus e Belém, listadas entre os dez municípios com maiores registros de mortes violentas de LGBTQIAPN+ no país. Além da questão financeira, como principal desafio enfrentado pelas organizações da região, desemprego e a inexistência de espaços físicos para o acolhimento da comunidade dificulta a promoção de articulações, encontros e eventos para a população.
No Centro-oeste, encontramos um contraste de realidade entre Brasília e outros municípios do interior. Na capital do país se concentra a maior parte de recursos e apoios de políticos, enquanto no interior as organizações trabalham arduamente para oferecer serviços essenciais como cesta básica e moradia. Nessa região, há também a presença do conservadorismo e um padrão cultural heteronormativo reforçado pelo agronegócio, que responde com violência constante e discriminação. A população indígina LGBTQIAPN+ também enfrenta desafios relacionados a violência ambiental e falta de apoio aos direitos de suas comunidades.
Na região Nordeste do país temos a presença de organizações consolidadas, o que não exclui o grande desafio no combate contra a violência e o preconceito. Bahia e Pernambuco são os dois estados com maior presença de ONGs LGBTQIA +. Além da questão da violência, encontramos uma enorme dificuldade para o acesso a recursos e a falta de capacitação dos profissionais e voluntários das organizações.
No Sudeste se concentra a maioria das organizações de abrangência nacional. Porém, os municípios menores da região ainda sofrem com a falta de recursos e apoio. Na região, foi constatado também desafios para enfrentar uma estrutura patriarcal e racista que favorece organizações lideradas por homens gays, cisgêneros e brancos que acabam tendo maior acesso a recursos.
A região Sul apresenta uma importante história do movimento LGBTQIAPN+ para a garantia dos direitos da comunidade, com impactos em todo o país. No entanto, há o desafio da falta de recursos que levam as ONGs, muitas vezes, dependerem somente de doações individuais. O conservadorismo também é um fator presente na região, que concentra grupos como neonazistas e outras ideologias extremistas de extrema-direita.
“Em conclusão, diante de um cenário nacional de intolerância, violência e exclusão da comunidade, o trabalho das ONGs LGBTQIAPN+ no Brasil desempenha um papel fundamental na promoção e garantia dos direitos humanos, combate a discriminação e construção de uma sociedade mais inclusiva.”
O Instituto Bem do Estar acolhe, escuta, apoia e defende os direitos da comunidade LGBTQIAPN+. Conheça mais e apoie o nosso trabalho clique aqui
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Ricardo Milito
Diretor Científico do Instituto Bem do Estar. Psicólogo e administrador com experiência no segmento organizacional e projetos sociais. Curioso, observador e disposto a ajudar as pessoas buscarem respostas para suas questões. Acredita no potencial do ser humano.
Existem histórias que começam antes mesmo do primeiro encontro. Histórias que se escrevem nas faltas, nos vazios, nas tentativas de se reconstruir depois do amor que não deu certo. Estar à Procura é sobre isso: relatos de quem, de uma maneira ou de outra, busca aquela parte que está faltando — e tenta preencher o vazio que machuca.