A ansiedade está a seu favor na pandemia?

A ansiedade é a alteração mental mais comum do mundo. São diversos os fatores que contribuem para o aumento dessa sensação nas pessoas atualmente: problemas financeiros, brigas, trabalhos exaustivos, falta de tempo para lazer, doenças, limitações….. A lista não pára!

Além disso, hoje estamos sendo forçados ao isolamento. Mas será que a ansiedade é tão ruim quanto parece? 

Foto: Engin Akyurt / Unsplash

Foto: Engin Akyurt / Unsplash

Podemos ver a ansiedade como uma forma de sobrevivência: imagine nos tempos das cavernas aquele ser humano preocupado em relação a suas colheitas, atento quanto aos predadores, cuidadoso com seus recursos e familiares; agora pense num segundo ser humano, desleixado, pouco preocupado sobre suas colheitas, ou sobre a aproximação do inverno, ou ainda que se mantivesse vulnerável a predadores. Bem, possivelmente, o segundo ser humano, desleixado e pouco preocupado, não sobreviveu. Já o primeiro ser humano, ansioso a respeito de seu futuro e pronto para atuar em casos de adversidades, sobreviveu! E, assim, talvez todos nós, hoje em dia, descendamos de alguma forma deste ser humano ansioso e preocupado!

Fica mais fácil agora perceber que a ansiedade não é de todo ruim. Ela nos ajuda a nos planejar, nos preparar, raciocinar e atingir resultados melhores!

A ansiedade é fundamental para mudanças e para se adaptar!

Porém , quando está em falta, como no caso do nosso ser humano primitivo desleixado, ou em excesso, como vemos em quase metade da população mundial hoje em dia, teremos prejuízos que afetarão a qualidade de vida e a ansiedade pode passar a atrapalhar mais que nos ajudar.

Trazendo esses conceitos à realidade atual da pandemia e quarentena, como podemos usar e controlar nossa ansiedade e nossas preocupações para nos mantermos bem e evoluirmos cada vez mais, atingindo resultados melhores?

Primeiro, aqueles que já sofrem de transtornos ansiosos devem procurar manter seu tratamento, seja medicamentoso, com outras terapias ou ambos. Assim, manter contato com os profissionais de saúde que as assistem é fundamental para evitar descompensações e complicações da ansiedade. Uma ansiedade descompensada pode levar ao medo exacerbado, aquele que “paralisa” e nos tira a capacidade de raciocínio, planejamento e reação, nos deixando até mais vulneráveis.

Referindo-se agora a toda a população, incluindo principalmente aqueles que sabidamente já possuem um transtorno ansioso, podemos usar nosso medo e ansiedade para agirmos proativamente, por exemplo, nos informando bem, realizando as medidas higiênicas de forma adequada, praticando solidariedade, gentileza e gratidão, nos comunicando para evitar o isolamento total.

Todas essas medidas ajudam a manter nosso equilíbrio mental, aliviar a ansiedade e ainda auxiliam a nós e outras pessoas em nossa volta a se protegerem da pandemia, aumentando a sensação de segurança, satisfação, bem-estar e felicidade.

Olhar o lado positivo das coisas é muito importante para tirarmos o que há de bom nelas e nos tornarmos pessoas melhores. Que possamos aproveitar este momento de parada para refletir sobre nossos estilos de vida e a forma como vemos e tratamos o mundo, redefinir valores, desenvolver novas habilidades e procurar adaptações para lidarmos da melhor forma com nossas preocupações, dúvidas, ansiedades, angústias e incertezas, tanto durante a pandemia como também  com o que virá depois dela.


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Dr Ricardo Jonathan Feldman

Psiquiatra no Centro Feldman de Saúde, fundada em 2012, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no Residencial Israelita Albert Einstein e professor na Pós-Graduação de Psiquiatria do HIAE, atua no diagnóstico, tratamento e ensino dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.