Estar na Pele da Andrea: Página 01

Meu nome é Andrea e acabei de completar 40 anos de idade. Desses 40, 15 anos eu tenho sentido na pele alguns dos problemas de saúde mental. Digo 15, mas poderiam ser mais.

Já tem um tempo que comecei a me conhecer melhor, a entender a Andrea que sou hoje e por que sou assim.

Pretendo contar nessa e nas próximas páginas um diário da minha vida em relação às minhas ansiedades e episódios de depressão. Acredito no poder da empatia e que o relato de histórias pode ajudar muitas pessoas a se identificarem e assim buscarem auxílio - o que eu demorei muito tempo para fazer.

Foto: Olia Gozha / Unsplash

Foto: Olia Gozha / Unsplash

Então vamos lá.

Nasci no Brasil e moro no Canadá desde 2007. Tive uma infância muito boa, não posso reclamar. Porém, alguns episódios ficaram marcados e contribuíram para que eu não tivesse uma boa autoestima.

Quando eu tinha 7 anos meu pai foi transferido para a Alemanha. Fomos junto com ele, eu, minha mãe e minha irmã, que é dois anos mais nova que eu. Eu frequentava escola e em apenas alguns meses aprendi a falar fluente alemão e tinha amigos também imigrantes. Foi uma ótima experiência.

Na volta para o Brasil eu não me sentia muito bem comigo. Apesar de ter ficado somente um ano morando na Alemanha, eu estranhava o calor do Brasil e pedi para minha mãe que me levasse para cortar meu cabelo. Cortei bem curtinho. Curto mesmo, de um jeito, que na minha época, somente os meninos cortavam.

Além de estar com o cabelo curto, eu era uma menina gordinha, mais que a maioria das meninas, o que chamava ainda mais atenção. Eu estudava em uma escola católica particular, administrada por freiras com somente alunas meninas. 

Aos meus 9 anos de idade, me lembro de ter sido alvo de risada das minhas colegas. Não lembro de ter uma amiga muito próxima. E como se fosse ontem, lembro de uma delas apertar as minhas bochechas e falar: “- gente, ela não é gordinha, ela é fofinha!”

Isso ficou gravado, as palavras e a imagem de uma turma inteira olhando para você com aquela vontade de rir - ou com dó.

Eu não falei nada. Eu não reagi.

No prédio em que eu morava eu era chamada de “baleia Moby Dick” pelos meninos. Também não lembro de ter me defendido. Eu escutava e guardava aquilo para mim. 

Nunca fui correndo para meus pais pedir ajuda, acho que eles nem sabiam que isso acontecia comigo.

Conto esses fatos pois acredito que foram nesses momentos que comecei a internalizar tudo o que me fazia sofrer e onde fui perdendo minha autoestima. Eu guardava tudo para mim, sem contar nada a ninguém. Eu não sabia que contar essas minhas dores para alguém poderia me ajudar. Por isso, fui só guardando. Nunca me achei bonita, nunca gostei da imagem que eu via no espelho e nunca achei que fosse alguém importante.

Fui ganhar mais confiança quando comecei a treinar basquete ainda na escola. Meu corpo mudou, me desenvolvi e comecei a ganhar confiança.

Muitas vezes negligenciamos fatos importantes da nossa infância e adolescência, porém é ali, geralmente, que encontramos respostas para personalidades e atitudes que temos quando adultos.

Com terapia e ajuda profissional, conseguimos buscar respostas de assuntos que estão escondidos no nosso subconsciente e que, se resolvidos, podem nos trazer muita calma e resolução de medos e ansiedades.

Nas próximas páginas continuo falando mais sobre os acontecimentos que marcaram a minha vida e quando comecei a me conhecer melhor.

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Andrea Britto

Brasileira-Canadense, mãe, esposa, filha, irmã, amiga, empreendedora e apresentadora do podcast Dose de Energia. Apaixonada por desenvolvimento pessoal, tenho como objetivo de vida espalhar pelo mundo mensagens de inspiração, conhecimento e consciência sobre nossas mudanças e desafios. Acredito muito nas pessoas e que todos nós oferecemos o melhor que temos no momento em que estamos e, por isso, podemos sempre evoluir e então inspirar aqueles que nos observam - buscando assim um mundo melhor.