Passo

Foto: Christopher Sardegna / Unsplash

Foto: Christopher Sardegna / Unsplash

Este poema de um passo 

começou na intenção 

o corpo inclinou-se à frente 

a cabeça equilibrou 

abdômen contraiu 

braços em contrapeso 

a perna direita se arriscou 

ponta do dedão do pé 

última parte que o chão tocou 


um ligeiro sobressalto 

se apoderou de meus pulmões 

a perna esquerda acolheu atenta 

a responsabilidade das decisões 

manteve-se sólida, impassível 

sua companheira cruzava os ares, intangível 

no momento correto 

nem antes, nem depois 

o calcanhar pediu chão 


o pé aos poucos se acomodou 

gato que amacia a relva 

e a total entrega veio pôr fim 

ao momento de delírio 

ajustes incalculáveis para o equilíbrio 

até que a conta chega a zero 

com ambos os pés sobre o planeta 

o corpo se divide exato 

dois pontos contra um chão 

gangorra parada no tempo 

balança em dia sem vento 


no instante seguinte 

somou-se ao zero nova intenção 

e junto à força que tudo move 

o primeiro passo 

ganhou um irmão

***
Felipe Futada

Professor de Educação Física (USP) e trabalha em escolas da rede particular de São Paulo e em cursos de formação de professores.