A mulher do pós-parto

Quando se descobre que está à espera de uma nova vida surge logo aquela enxurrada de hormônios, emoções e novas questões a serem solucionadas. É difícil entender como cabe tanto sentimento em um ser nesse período, algumas ficam eufóricas com o tão sonhado positivo, outras sofrem pelo mesmo motivo, mas em ambas existem os mesmos sentimentos: a preocupação e o medo quase excessivos por toda e qualquer coisa e o estado de alerta se mantém ativo 24h por dia. Uma mãe sempre está pronta para os imprevistos, mesmo que ela não acredite nisso. Porém logo depois de todo o susto são inundadas por um sentimento tão intenso e verdadeiro, o amor.

Foto: Janko Ferlic / Unsplash

Foto: Janko Ferlic / Unsplash

Mas ela não espera pelo pós-parto, muitas vezes nem se prepara para tal acontecimento e quase não pensa nisso. O foco sempre está no bebê e tudo que o envolve, como o quartinho,  enxoval, chá de fraldas, lembrancinhas e entre outras milhares de coisas que acredita ser necessário para o bebê.
A futura mãe e todos que estão em volta são capazes de pensar em cada detalhe para o pequenininho, mas não pensam na mãe, talvez porque se espera que ela esteja super feliz e não é capaz de sentir nada mais além de puro amor. E as perguntas que passa a ouvir nunca são direcionadas a ela e sim para sua gravidez, como: “o bebê já virou?”, “já comprou a mala maternidade?”,  “já fez as fotos? Tem que ter recordações, viu?”, “você está fazendo exercícios? É bom pro bebê, tem que fazer” e  aí  por diante.
Todas as pessoas se tornam médicos, nutricionistas e fisioterapeutas quando encontram uma grávida. Mas porquê de tamanha insensibilidade com a futura mamãe que também está se adaptando com toda essa novidade e tudo que precisa é de apoio e acolhimento.

O que é realmente interessante e traz uma boa reflexão é que a própria mamãe esquece de si mesma, se perde no decorrer dessas quarenta semanas e todas as novas demandas que são impostas, quase como uma obrigação para ela. 
É perfeitamente compreensível que se esqueça de si porque ela mesma acredita que o amor que sente é tão grande, tão incondicional que suprirá tudo, e então quando o bebê nasce, e talvez ela não sinta tudo aquilo que esperava sentir de imediato e muito menos aquilo que estava acostumada a ouvir sobre esse momento, então surge algo novo, o vazio e a estranheza consigo mesma porque nada acontece como se esperava e pode ser que você não se reconheça mais quando olha para o espelho, ou quando veste sua roupa que gostava e ficava perfeita antes da gravidez, ou quando seu cabelo cai tanto que dá para fazer uma peruca, quando seu rosto e corpo tem manchas escuras que você acreditava que sairia depois do parto e ainda continuam ali, ou quando as estrias surpreendentemente começam a lhe incomodar, quando a sua barriga ainda parece carregar um bebê de uns três ou quatro meses, e os seios? (esse realmente é um assunto para outro texto).
Mas porque ninguém te falou sobre isso? Você mesma jamais imaginaria que essas questões fossem te incomodar tanto, não é?! Acreditou que o amor pelo bebê seria capaz de anular tudo isso, mas não há nenhuma relação no que sente pelo seu filho e o que sente sobre você nesse momento. E NÃO SE CULPE POR SE SENTIR ASSIM, esse corpo não é o que estava acostumada a ver, você não é a mulher de nove, dez, onze meses atrás, você ainda não se conhece e ainda está aprendendo a ser mãe e ser você, a ser mulher novamente. 

É difícil entender que você é uma mulher, profissional,, amiga, filha, companheira de alguém porque nesse momento você só consegue ser mãe e isso é tudo. É provável que com o tempo você comece a aceitar o seu novo corpo, volte a se amar e a se sentir bem com as marcas que trouxeram o amor da sua vida para o mundo, quem sabe você se sinta sexy novamente. Mas tudo que precisa nesse momento é ser acolhida por si mesma, sem cobranças e julgamentos, aceitando o seu novo eu sendo mãe, uma mãe que não precisa dar conta de tudo, mas uma mãe que dá tudo que pode todos os dias, que vence o cansaço diário, a exaustão no fim da noite e ainda acorda a madrugada toda para dar de mamar e se permite ficar mais uns minutinhos admirando seu anjinho dormir mesmo estando tão esgotada. 

A mulher do pós-parto começou a trilhar um novo caminho, uma vida nova a ser descoberta, essa mamãe irá se surpreender com tamanha força que adquiriu, ficou um pouco menos tolerante, uma leoa e ao mesmo tempo tão sensível e protetora, com tanto amor e que ainda é capaz de aumentar a cada dia. Essa mulher vai voltar a se conhecer novamente, aos pouquinhos, no seu tempo ela começará a gostar e admirar a pessoa que se tornou, tão dedicada e atenciosa, ela quase não tem tempo para si, mas quando  consegue, aproveita ao máximo.
Essa mulher também voltará a descobrir o seu estilo, vai se sentir bem em roupas que antes jamais gostaria, porque você não é mais a mesma e TÁ TUDO BEM SENTIR SAUDADE DE QUEM VOCÊ ERA ANTES DO BEBÊ, você provavelmente também não vai gostar de frequentar os mesmos lugares que antes adorava, talvez seja preciso fazer novas amizades, amigos que não se importam com o seu atraso, imprevistos de última hora e muito menos com bebê chorando naquele restaurante chique e isso pode ser bem difícil, mas a mulher do pós-parto tem um objetivo e sabe o que quer e o que é melhor para ela nesse momento. 

Então mulher, recém mãe que neste momento está se sentindo um pouco perdida e exausta. Se acolha, se abrace, cuide de você nas suas fragilidades, se permita sentir tudo que vier, chore, grite, sorria.

Não se culpe por desejar um tempo sozinha, não se culpe por querer fazer uma refeição quentinha e usando os dois braços, não se culpe em querer tomar um banho longo e lavar o cabelo sem ficar ouvindo o choro do bebê, não se culpe por querer trabalhar, não se culpe por ser você.

Tudo que está sentindo e passando agora faz parte do processo, do seu processo de autoconhecimento.


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Louise Barbosa 

Gestora de recursos humanos pelo Centro Universitário Jorge Amado e Psicanalista formada pelo Instituto Oráculo de Psicanálise, aborda temas como ansiedade, depressão, autoconhecimento e maternidade. Atua em consultório particular na forma presencial e online. Também é uma utilizadora da clínica peripatética em casos específicos.