Autoflagelação Digital: Por que os adolescentes estão fazendo cyberbullying contra eles mesmos?

Especialistas dizem que os adolescentes estão se voltando cada vez mais para a autoflagelação digital em um esforço para validar suas inseguranças em um espaço público.

  

Se você tem um adolescente em sua família, é provável que tenha pensado em cyberbullying. Com os adolescentes usando cada vez mais a tecnologia para se comunicar e desenvolver relacionamentos, é natural que os pais considerem se os filhos presenciaram, participaram ou foram vítimas de algum tipo de cyberbullying. Uma ameaça menos conhecida contra adolescentes, no entanto, é a autoflagelação digital ou o cyberbullying contra eles mesmos.

Foto: Elijah O'Donnell / Unsplash

Foto: Elijah O'Donnell / Unsplash

A autoflagelação digital ocorre quando as crianças postam, anonimamente, coisas ruins ou depreciativas sobre si mesmas online. As crianças podem configurar contas fantasmas em plataformas de mídia social e usar essas contas para se intimidarem.

Uma pesquisa publicada no Journal of Adolescent Health, dos EUA, descobriu que 6% dos alunos postaram comentários negativos sobre si mesmos online. A pesquisa analisou 5.593 alunos do ensino fundamental e médio entre as idades de 12 e 17 anos. Os pesquisadores descobriram que os homens eram, significativamente, mais propensos a relatar a participação na auto-mutilação digital (7,1%) do que as mulheres (5,3%). O estudo vinculou os seguintes fatores de risco para se envolver em automutilação digital:

  • Orientação sexual

  • Experiência com bullying na escola

  • Experiência com cyberbullying

  • Uso de drogas

  • Comportamento depravado

  • Sintomas depressivos

 

Por que os adolescentes se envolvem em autoflagelação digital?

Um estudo menor conduzido por Elizabeth Englander, PhD, em 2011-2012 descobriu que 9% dos 617 indivíduos entrevistados admitiram se envolver em autoflagelação digital. Semelhante ao estudo citado anteriormente, Englander encontrou uma taxa mais elevada de autoflagelação digital entre os homens (13%) do que as mulheres (8%).

A Dra. Englander encontrou várias razões pelas quais os adolescentes se envolvem nesse comportamento, incluindo: chamar a atenção de outra criança, provar que eles aguentam, atrair a atenção de adultos, fazer com que os outros se preocupem com eles, como uma piada contra alguém e, para começar uma briga.

Alguns adolescentes podem esperar encontrar apoio postando comentários negativos e mensagens.

Pode ser difícil se apresentar e pedir ajuda quando você está lutando com problemas emocionais, mas quando os outros observam esse tipo de comportamento direcionado, eles podem entrar e ajudar ou pelo menos validar a experiência.

O que não podemos ignorar é que, semelhante ao corte e a outras formas de autoflagelação física, a autoflagelação digital pode servir como uma forma, “mal-adaptada” e potencialmente perigosa, de lidar com sintomas de depressão e outros sentimentos fortes de dor e transtorno. Essa forma relativamente nova de se auto-odiar e auto-agredir entre adolescentes é difícil de detectar e, portanto, difícil de abordar.

O que os pais devem fazer para evitar a auto-agressão digital?

É importante se concentrar nos motivos que estão por trás do comportamento. Já que para estes adolescentes se envolver em auto-agressão digital pode resultar em receber suporte e atenção, dar uma boa risada, ou receber a aceitação de seus colegas.

Compreender os sentimentos subjacentes ao comportamento, é a melhor maneira entender como ajudar o adolescente.

O adolescente, que quer fazer uma brincadeira e ganhar a atenção dos colegas, pode estar lutando com a autoestima e interações sociais, por exemplo. Um adolescente que procura a atenção de um adulto ou faz com que os outros se preocupem, pode estar com problemas de baixa autoestima ou sendo ignorado pelos colegas. A única maneira de descobrir é ter uma comunicação sincera e aberta com seu adolescente e criar um meio seguro para abordar estes temas difíceis. 

Check-in nas redes sociais

Monitorar a mídia social com adolescentes é um negócio complicado, pois, se por um lado, os adolescentes precisam de independência e usam a tecnologia para se conectar com seus pares, por outro, se um pai supervisiona constantemente, o adolescente poderá criar contas separadas para evitar o olhar atento dos pais. 

Ao invés de investigar o telefone do seu filho todas as noites, converse sobre o que está acontecendo. Se notar um comentário negativo, verifique a conta de onde veio e pergunte ao seu filho sobre isso. Fale sobre o porquê você sentiu que era negativo e dê ao seu adolescente uma chance de compartilhar seus sentimentos sobre o ocorrido.

Muitas vezes, as mídias sociais são tratadas em uma conversa única. Os pais estabelecem as regras e depois se afastam. Os adolescentes precisam de conversas frequentes para falar sobre os prós e contras do uso de mídias sociais e o que fazer se o cyberbullying ocorrer.

Evite o julgamento

Não há uma razão para os adolescentes se envolverem nesse comportamento. Alguns podem fazê-lo por curiosidade, enquanto outros o usam como um pedido de ajuda. Se você descobrir que seu filho está se envolvendo em autoflagelação digital, permaneça calmo. Resista ao desejo de remover toda a tecnologia e aproveite o tempo para se conectar com seu filho adolescente.

Veja as razões por trás do comportamento fazendo perguntas abertas sobre isso. “Como você se sentiu quando postou essas mensagens? Como os outros responderam? Como você se sentiu depois de ter feito isso? ”São perguntas que podem ajudá-lo a ajudar seu filho adolescente a lidar com a situação sem julgamento ou críticas.

Ajude seu filho adolescente a construir um sistema de apoio 

Em um momento de conectividade online constante, é comum que os adolescentes se sintam isolados das conexões cara-a-cara. Construir um sistema de suporte sólido ajuda os adolescentes a se sentirem menos sozinhos. Isso, também, lhes dá uma sensação de comunidade. Peça ao seu filho adolescente para nomear seus amigos de confiança.  Fale sobre professores, treinadores, conselheiros escolares e outros adultos de confiança que possam prestar apoio em momentos de necessidade.

Obtenha ajuda profissional 

Automutilação e depressão estão ligados à ideação suicida. Embora nem todos danos digitais estejam enraizados na depressão e, certamente, mais pesquisas são necessárias para se obter uma melhor compreensão, os adolescentes que se envolvem em autoflagelação digital estão lutando com algo. A psicoterapia com um profissional de saúde da mente pode ajudar seu filho a compreender as emoções e gatilhos que conduzem a este comportamento, além de aprender habilidades de enfrentamento adaptativo para usar no futuro.

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Artigo originalmente publicado no site da organização Psycom, livremente traduzido e adaptado por Mariana França.