Suicídio: por que é tão difícil buscar ajuda?

Uma das grandes dúvidas sobre o suicídio é: por que é tão difícil buscar ajuda neste mundo com tantos tratamentos e possibilidades?  Considerando as estatísticas, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 e 29 anos no mundo (Organização Mundial da Saúde).  Outros dados nos mostram que 90% dos casos de tentativa de suicídio poderiam ter sido evitados com tratamento psicológico. E, que por volta de 60% dos que morrem por suicídio, não buscaram por ajuda.  O que dificulta tanto esse pedido de ajuda?

Foto: Joel Overbeck / Unsplash

Foto: Joel Overbeck / Unsplash

A sociedade ainda considera que falar sobre o assunto pode incentivar as pessoas ao ato.  Isso não é real! Entretanto, cria na cabeça de quem está sofrendo sentimentos de solidão, de que não deve falar sobre o tema e que haverá um julgamento muito negativo caso revele seus pensamentos e sentimentos para os outros.  Inclusive para as culturas religiosas pensar em suicídio ainda é visto como um pecado.  

Todo este tabu a respeito do suicídio só aumenta a dor daqueles que se sentem sem esperanças para enfrentar as dificuldades do dia a dia.  Embora demonstrem com várias dicas suas dificuldades, muitas vezes os mais próximos, também movidos pelo preconceito sobre o tema, não abordam o assunto e consideram apenas que o jovem está passando por uma fase difícil da adolescência.

A dificuldade de buscar ajuda se deve a este ciclo vicioso que se forma entre os sentimentos negativos do indivíduo que sofre, a falta de apoio da família e sociedade em geral e a ausência de discussões sobre o assunto.

O que fazer para tornar a ajuda uma alternativa possível para essas pessoas em sofrimento?

Um dos primeiros passos começa no lugar mais importante e mais próximo:  a família. Retirar o olhar das telas e depositar nos olhos e nas ações das pessoas facilita muito.  Os pais hoje vivem culpados por não conseguirem prestar atenção a seus filhos e, normalmente, usam de dinheiro ou bens materiais para compensar essa falta.  Esse não é o caminho que nos trará mais resultados.

É necessário reestabelecermos os laços afetivos. 

Pessoas que pensam no suicídio como uma alternativa para resolver seus problemas, normalmente, não conseguem encontrar um lugar de conforto e tranquilidade nas relações afetivas.

As amizades contaminadas pela superficialidade das redes sociais, a banalização do sofrimento do outro, nada disso ajuda uma pessoa em sofrimento.  Um abraço, um olhar atento, uma conversa para desabafo, por vezes é a única coisa que alguém que está em sofrimento precisa. 

As vezes ela só precisa de alguém que olhe para ela e pergunte se pode ajudar.  Oferecer ajuda é um caminho.

Perceber os que estão a sua volta é uma prova da importância das pessoas na vida uma das outras. 

Conversar e mostrar que não há problemas sem solução.  A solução pode não ser a que esperamos, mas sempre será possível encontrar uma alternativa para se sentir melhor.

É preciso entender que buscar ajuda não é sinal de fraqueza, mas sim uma maneira simples de mostrarmos o que sentimos e, também, de oferecermos o que temos de melhor ao outro: nossa fraternidade e empatia. 


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Erika Scandalo

Especialista em Psicologia Clínica Comportamental, produz conteúdo sobre a vida e como aproveitá-la de diferentes formas. Acredita que a felicidade é consequência de uma visão proativa sobre as dificuldades. Ser feliz é mais um olhar sobre o que se é, do que ter tudo o que se quer.