Líder Humano, ser ou não ser? - Por Daniela Cais

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Minha missão é escrever sobre o líder humano e, para mim, o desafio é mostrar que humanos somos todos nós, ainda que o impasse permaneça sobre quem é o ser humano.

Perseguimos a perfeição de tal forma que o momento nos pede para interromper o fluxo automático do pensamento e redefinir a rota, porque já não podemos mais renunciar àquilo que somos em essência.

Somos a espécie inteligente, lembra? Nosso diferencial é o pensar, raciocinar, calcular, planejar, criar e, sentir, julgar, analisar, reconhecer. Não é difícil perceber que precisamos da abertura dos nossos sentidos, com unicidade de corpo e mente para exercer essa condição especial que nos confere humanidade.

Por sermos humanos temos propriedade para sermos autoconscientes, autorresponsáveis, vulneráveis e, inexoravelmente, sociais. 

Quando nossas características são postas como requisitos de liderança, o que se espera é que, como líderes, enxerguemos pessoas e não só performances.

Ou seja, o líder humano se relaciona com a equipe e se coloca na posição de quem escuta com atenção seu semelhante, se comunica com clareza e assertividade, admite erros como parte do processo e se preocupa com o bem-estar de todos (seu e da equipe).

Mas, é óbvio que no contexto das organizações, seres humanos precisam apresentar resultados e é por isso que não se pode perder de vista a razão de um líder estar onde está. A função da liderança é estratégica e necessária.

O problema, na maioria das vezes, está em qualificar um líder pelo grau de técnicas e capacidades, quando o ideal seria que a métrica da boa liderança fossem os traços de caráter

Essa afirmação parece deslocada e pesada? Infelizmente. Mas, precisamos colocar nesses termos para entender que, dentro das necessidades humanas, pessoas precisam se sentir seguras, respeitadas e protegidas. O ambiente de trabalho, no vigor do desejo ambicioso de crescimento, tem natureza ambígua, provisória e competitiva – por melhor que seja o clima, paira um tom da ameaça da finitude – maior dos medos humanos.

Portanto, a liderança precisa apreender e utilizar recursos para o exercício da proximidade,  da justiça, da leveza e da flexibilidade, com intuito de que resultem no sentimento de lealdade.

A lealdade é o vínculo capaz de manter equipes em harmonia, que desperta o senso de pertencimento e o cumprimento de papéis funcionais para o alcance de objetivos maiores, coletivos, que caracterizam a designação dos times. 

É pelo cultivo da lealdade que a liderança consegue facilitar ou diminuir a complexidade da cultura organizacional e, desse modo, sabe que a produtividade será consequência de um conjunto de ações e atitudes que se revelam humanizadas, com bom uso do tempo, com reconhecimento da importância de cada colaborador, com permissão para que ideias e sugestões da equipe avancem, com respeito a individualidade ao ajustar e adaptar a rotina em situações particulares, com presença e compreensão constantes, inclusive e principalmente, nas situações difíceis, nas falhas e nos realinhamentos.

Em resumo, humanizar a liderança é um passo importante para se compreender que os relacionamentos interpessoais no ambiente de trabalho habilitam as nossas imperfeições para que as divergências apareçam e sejam equacionadas com doses variáveis de orientação e autonomia.

Neste contexto, ser ou não ser (líder humano) não é uma questão de estilo, método ou técnica, é uma convicção que de fato legitima a condição da liderança, concorda?

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Daniela Cais

Mestre em Fonoaudiologia – Comunicação Profissional (PUC-SP), Consultora de Comunicação Corporativa, Palestrante, Mentora e Escritora.