Retomar a rotina está difícil para você?

Este texto é um convite para a reflexão: por que sofremos com o isolamento social, e agora que está acabando, temos dificuldades para retomar nossa rotina? 

Foto: Tamanna Rumee / Unsplash

Foto: Tamanna Rumee / Unsplash

Para respondermos esta questão será necessário compreendermos o que aconteceu em nossas vidas com a pandemia.

Até março de 2020, cada um de nós tinha uma série de atividades rotineiras, sejam elas prazerosas ou não.  Do lazer ao dever, tínhamos nossas vidas estruturadas, e nosso tempo e jeito de resolver nossos problemas.

Com a ocorrência da quarentena na pandemia, nossas vidas foram significativamente transformadas:  a sequência de atividades mudou, o local onde trabalhávamos/estudávamos foi alterado, houve uma sobrecarga de atividades domésticas X profissionais, os relacionamentos foram intensificados com o isolamento social, e com isso as diferenças foram evidenciadas, além das dificuldades com os filhos que eram ensinados pelas escolas e passaram a ter aulas online, ou no pior caso, passaram a não ter aulas. 

Todas essas alterações exigiram uma energia extra de adaptação. Nos frustramos pela perda de atividades prazerosas e fomos expostos enormemente a atividades que não estávamos acostumados. Nossa ansiedade aumentou, nossa depressão piorou, os casos de pânico se intensificaram e tivemos que resolver tudo isso sem o suporte das redes sociais de amigos e parentes, que nos fazem tão bem.

Como pano de fundo ainda havia o risco de contaminação nos casos de exposição a ambientes sociais. Isso nos fez manter o isolamento e buscar alternativas na internet para aliviar a tensão. Foram inúmeras lives de treinamento fitness, yoga, aulas de idiomas, de tricô/crochê, instrumentos musicais, fotografia ou qualquer outra atividade que pudesse ser feita na sala de casa.

Mas o ser humano é um ser social e precisa do contato tête-à-tête para sentir que pertence a um grupo.  É por meio do grupo que aprendemos como nos comportar, temos nossos sentimentos validados e nos desenvolvemos afetivamente.

No isolamento, ou num convívio com grupos pequenos, essa troca é restrita e há uma forte tendência à depressão por falta de estimulação.

Retomar a rotina = ansiedade?

Entretanto, quando nos deparamos com a possibilidade de voltarmos às nossas rotinas, é muito comum que a ansiedade apareça. A perspectiva extremamente positiva de retomada dos prazeres diários, concorre com a preocupação da contaminação e uma nova necessidade de adaptação.  

Porém essa adaptação tem um item a mais.  Agora estamos num ambiente seguro e conhecido. Mesmo que tenhamos conflitos interpessoais em função da proximidade/intensidade dos relacionamentos, ainda assim é um ambiente, no momento, controlado.

Sair do conforto do controle e enfrentar o desconhecido é muito ansiógeno.  Além dos riscos reais, há uma série de medos que enfrentaremos por simplesmente estarmos saindo da zona de conforto que construímos neste último ano e meio.

Além de sair da zona de conforto, teremos que enfrentar a retomada de todas aquelas rotinas estressantes que são inerentes aos contatos sociais. Na verdade, nos acostumamos a ficar no “nosso canto”.  E por mais que pareça contraditório, ao mesmo tempo não aguentamos mais ficar em casa pela quarentena, é natural que não queiramos voltar à rotina, que tenhamos medo ou que prefira se manter em home office.

Aqui é o ponto importante para refletirmos. Algum nível de receio é natural. Talvez a nova rotina tenha trazido algumas conveniências como não pegar trânsito, ou ter mais tempo livre por não ter o deslocamento ao trabalho.  E não queremos perder esses benefícios.  Se a reflexão lhe trouxer estes pontos está tudo bem.  Para resolver estas dificuldades, ou a procrastinação, para a retomada da rotina será uma questão de tempo e de determinação de metas.


Atenção ao momento de pedir ajuda

Agora se percebermos que o maior motivo é o medo da exposição, dos contatos sociais, a falta de energia ou de prazer para realizar aquilo que trazia benefícios, é o momento de pensar em buscar ajuda. 

Todo esse desgaste emocional pode ter deflagrado um processo de depressão que pode nos levar desde a dificuldades de adaptação, até ao isolamento social e afetivo.  E este tipo de isolamento é extremamente prejudicial ao nosso bem-estar emocional.  

A depressão não começa como um grande surto de falta de energia.  Ela vai dando sinais ao longo de nossa caminhada. Por isso é muito importante perceber como respondemos às dificuldades de rotina, e caso a falta de energia não seja justificada por elementos pontuais, é importante a busca de ajuda profissional.

É importante evitarmos maiores comprometimentos afetivo/comportamentais, pois a depressão vai se construindo em nossa vida, podendo chegar a sentimentos de desesperança.  

Auto-observação e autoconhecimento são as chaves para superarmos estas dificuldades.


***

Erika Scandalo

Especialista em Psicologia Clínica Comportamental, produz conteúdo sobre a vida e como aproveitá-la de diferentes formas. Acredita que a felicidade é consequência de uma visão proativa sobre as dificuldades. Ser feliz é mais um olhar sobre o que se é, do que ter tudo o que se quer.