Como evitar o desencadeamento da ansiedade em seu filho

Você é um pai com transtorno de ansiedade? Teste estas dicas para evitar transmitir sua ansiedade ao seu filho

 A ansiedade é parte da experiência humana e, às vezes, a palavra “ansiedade” é diluída. As pessoas se preocupam com uma grande variedade de coisas. Finanças, estabilidade no emprego, relacionamentos, educação dos filhos, saúde e segurança vêm à mente como preocupações comuns no dia-a-dia. Nem todas as preocupações, no entanto, se qualificam como ansiedade.

Foto: Caleb Woods / Unsplash

Foto: Caleb Woods / Unsplash

Os transtornos de ansiedade tem características de medo  e ansiedade excessivos, que afetam negativamente nosso funcionamento. Para as crianças, isso pode significar que a ansiedade torna difícil chegar à escola todos os dias, fazer e manter amigos, dormir à noite ou se concentrar na sala de aula. Para os adultos, trabalho, relacionamentos românticos, amizades, finanças e saúde física podem ser prejudicados. A ansiedade se manifesta de várias maneiras (física, emocional e comportamental), e há vários distúrbios que se enquadram em "transtornos de ansiedade".

Uma pergunta que os pais costumam fazer é: “Minha ansiedade pode causar ansiedade aos meus filhos?”

Pesquisas mostram que a ansiedade tem, sim, um componente genético. Estudos genéticos mostram uma taxa de herdabilidade de 30-67% para transtornos de ansiedade. Se um parente de primeiro grau de uma criança tiver um transtorno de ansiedade, há uma chance de que a criança também desenvolva ansiedade ao longo de sua vida.

 A outra questão a considerar é a seguinte: a ansiedade pode ser “contagiosa”? Parece que a ansiedade não é simplesmente uma questão genética. 

Pais e filhos podem afetar os comportamentos ansiosos um dos outros apenas vivendo juntos.

Um estudo publicado no American Journal of Psychiatry analisou quase 900 famílias de gêmeos adultos que têm filhos para determinar o efeito da influência ambiental sobre a ansiedade. Os resultados mostraram uma forte influência do comportamento ansioso de pais para filhos, independente da genética. Em essência, este estudo mostrou que, comportamentos ansiosos podem ser aprendidos e que o comportamento ansioso de uma criança também pode aumentar o comportamento ansioso dos pais. A boa notícia desta pesquisa é que os pais podem ter um papel ativo na redução da ansiedade de seus filhos, mudando seu próprio comportamento e modelando habilidades eficazes de enfrentamento.

 Fique atento a esses potenciais comportamentos ansiosos em sua família:


Conversa ansiosa

As crianças são ouvintes magistrais em todos os momentos errados. Embora você possa repetir as mesmas orientações, repetidamente, sem sucesso, pode, também, descobrir que a hora que seus filhos prestam atenção é, ​​exatamente, o momento em que você acha que está tendo uma conversa particular com outro adulto.

 

É importante processar pensamentos ansiosos com alguém que escute e ajude a trabalhá-los, mas é, igualmente, importante notar que as crianças têm a tendência a preencher as “lacunas” sozinhas, quando ouvem pequenos fragmentos de informações mais assustadoras. Falar com seus amigos sobre seus medos de um tiroteio na escola é saudável, mas uma conversa ansiosa sobre esse assunto na frente ou perto de seus filhos pode aumentar os medos e preocupações deles.

As crianças observam os medos, preocupações e conversas ansiosas de seus pais e podem internalizar esse tipo de pensamento.

Comportamentos de evitação

Se medos específicos te atingem, você pode reagir evitando o medo.  Você pode até justificar o medo, discutindo repetidamente sua origem. Por exemplo, se você atravessa a rua toda vez que encontra um cachorro, também poderá mencionar a vez em que foi mordido por um cachorro quando era criança, justificando o porquê vê os cães como imprevisíveis. Esta é uma reação comum a um medo baseado na experiência anterior. O problema é que com isso as crianças percebem os comportamentos de esquiva de seus pais. Neste caso, a mensagem que recebem é que todos os cães são assustadores e imprevisíveis e devem ser evitados.

 Superar medos específicos requer tempo e prática. Para evitar de passar esses medos para seus filhos, peça ajuda de seu cônjuge ou outro adulto presente em suas vidas, para ter certeza de que seus filhos tenham uma exposição saudável aos seus gatilhos, sem que isso os alarme. No caso do medo de cães, seu cônjuge pode levar seus filhos a um “dia de adoção de cães e gatos de estimação” para perder o medo e preocupação com a imprevisibilidade destes animais.


Comportamentos de blindagem ou superproteção

Os comportamentos negativos dos pais que provocam ansiedade podem incluir comportamentos que tentam proteger as crianças de todo e qualquer dano potencial. Avisos freqüentes para ter cuidado ao brincar e colocar limites em quão alto as crianças podem subir ou onde podem pular são exemplos de “blindagem” em simples brincadeiras de crianças. A mensagem aqui é bem clara: brincar é perigoso e você vai se machucar.

 As crianças precisam se envolver em “riscos saudáveis” ​​para que possam ver do que são capazes e aprender como tomar decisões saudáveis. Quando os pais protegem as crianças de ameaças potenciais que podem não existir, as crianças se preocupam em se tornar avessas ao risco.

 Os pais podem reduzir o risco de passar ansiedade para seus filhos seguindo os seguintes passos:

Conheça seus próprios gatilhos

Manter um rastreador de gatilhos, ou seja, se manter consciente de seus próprios pensamentos ansiosos, ajudará a identificar o que faz com que você se sinta assim e onde você pode precisar de ajuda. Às vezes, a ansiedade é desencadeada por medos específicos, mas, também, pode ser disparada por certos lugares e eventos, níveis esmagadores de estresse ou interação com os outros.

 Quando se sentir ansioso, anote o que está acontecendo, a hora do dia e o que você estava pensando ou fazendo antes de sentir a onda de ansiedade. Quando você vê um padrão de comportamento surgir, você pode identificar seus pontos de gatilho.

Incentive riscos saudáveis

Quando as crianças aprendem a se esforçar e avaliar seus pontos fortes e fracos, em seus próprios termos, eles descobrem como prosperar neste mundo. Se observar seus filhos subindo em uma parede de escalada, aciona um alarme dentro de você, peça a um amigo para te acompanhar em uma caminhada rápida pelo parque, te distraindo de sua ansiedade. Se a socialização em grandes grupos é difícil para você, mas você quer que seus filhos se sintam à vontade em grupos, deixe-os em festas ou envie-os com seu cônjuge ou outro adulto.

 As crianças precisam de incentivo para assumir riscos saudáveis. Você não precisa se juntar a eles nessa montanha-russa, mas precisa deixá-los experimentar.

Fale sobre habilidades saudáveis ​​de enfrentamento

Todos nós nos sentimos ansiosos, às vezes e, crescer nem sempre é fácil e divertido. Quando os pais são exemplos e demonstram estratégias saudáveis ​​para gerenciar e lidar com o estresse e a ansiedade, as crianças aprendem que podem lidar com seus fatores desencadeantes e estressores de forma independente. 

 

Algumas dessas estratégias são:

  • ensine respiração profunda (inspire por quatro segundos, segure por quatro, expire por quatro);

  • use um aplicativo de mindfulness ou atenção plena para relaxar;

  • ensine relaxamento muscular progressivo para liberar a tensão muscular;

  • façam um passeio juntos diariamente;

  • incentive o journaling, um tipo de diário que contêm registro de atividades, situações e/ou agradecimento diário;

  • crie uma caixa de preocupação para se desapegar das preocupações;

A ansiedade pode afetar tudo, desde a escola e o trabalho até a saúde física, relacionamentos e muito mais. Aprender a identificar seus gatilhos e encontrar habilidades de enfrentamento que funcionem para você, não apenas ajuda a gerenciar seu ciclo de pensamentos ansiosos, mas também ensina aos seus filhos que eles podem aprender a lidar com seus próprios gatilhos e trabalhar nos altos e baixos que ocorrem, naturalmente, à medida que crescem.

 

***

Artigo originalmente publicado no site da organização Psycom, livremente traduzido e adaptado por Mariana França.