Entendendo o transtorno de pânico, a agorafobia e sua correlação 

Observando os transtornos de ansiedade, podemos dizer que o transtorno de pânico e agorafobia são umas das síndromes mais frequentes e incapacitantes, além de serem correlacionadas. 



Foto: Lucrezia Carnelos / Unsplash

Foto: Lucrezia Carnelos / Unsplash

O ataque de pânico é marcado por um aumento acelerado dos sintomas da ansiedade (taquicardia, sensação de falta de ar, tremores, sudorese, tonturas, vertigens, náuseas e formigamentos). Para o indivíduo, isso pode ser extremamente ameaçador, sugerindo a ideia de morte por ataque cardíaco, asfixia, sentimento de perda do controle, loucura ou desmaio. Após essa experiência, há o medo de que a crise aconteça novamente. Cresce o medo e a ansiedade antecipatória em relação a novas crises, o que pode gerá-las ou mantê-las. 

A agorafobia envolve comportamentos de evitação e fuga de lugares que estejam associados ao medo de “passar mal”. A pessoa vai limitando sua mobilidade e autonomia, tendo sua vida pessoal, familiar, afetiva, social, profissional e financeira afetadas. Pode ter dificuldades de ficar sozinho em casa, usar transportes públicos, transitar por vias com retornos distantes, fazer compras, ir ao banco, teatro, cinema, trabalho, faculdade, viajar de avião e usar elevador. O medo de sentir medo alimenta uma insegurança. Pode conduzir a outros problemas como abuso e/ou dependência de substâncias.

O diagnóstico é baseado nos relatos da pessoa, seus familiares e observação de um terapeuta e ou psiquiatra. Nos transtornos de ansiedade é difícil estabelecer um limite exato entre o normal e patológico. Para a prática clínica, o patológico é quando há prejuízos sociofuncionais e/ou sofrimentos. 

Após o início da crise, os sintomas atingem um pico em até 10 minutos e pode durar menos de uma hora. O transtorno de pânico exige a recorrência de ataques que, pelo menos, um deles seja consequência da preocupação de novas crises e mudança comportamental significativa. Deve-se definir se os ataques são situacionais ou espontâneos.

Além da correlação com agorafobia, o transtorno de pânico está associado com o transtorno de ansiedade, transtorno de humor, abuso e dependência de substâncias e transtornos somatoformes. 

A história familiar pode ser um fator de risco e a base genética é um determinante fundamental. As principais hipóteses sobre a fisiopatologia são de base neuroquímica sobre os neurotransmissores e neuromoduladores.

Para Alan Goldstien e Dianne Chambless, a agorafobia é uma síndrome que tem o medo-do-medo como elemento fóbico central, resultado de um condicionamento interoceptivo. Os estímulos condicionados são sensações corporais internas. No caso do medo da ansiedade, a ativação fisiológica se torna um estímulo condicionado para a resposta do pânico. 

Com base na teoria cognitiva, ataques de pânico derivam de interpretações catastróficas erradas de certas condições corporais, que geram mais ansiedade em uma espiral crescente e rápida. É como um alarme falso, uma resposta autonômica a um aumento momentâneo no nível de estresse com pessoas vulneráveis. Consequentemente, o indivíduo pode desenvolver uma associação do medo com estímulos ambientais, estabelecendo base para o surgimento da agorafobia. Em seguida, o indivíduo se toma apreensivo com relação a ataques futuros, fortalecendo o condicionamento interoceptivo e a presença de sensações somáticas.

A aquisição de um repertório de habilidades para lidar com as crises de pânico e recuperar-se incluem:

  • Reestruturação cognitiva pelo reconhecimento dos pensamentos distorcidos e contestação da veracidade das interpretações.

  •  Treino de relaxamento e respiração.

  • Exposição gradual às situações agorafóbicas



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Ricardo  Milito

Membro do Conselho de Administração do Instituto Bem do Estar. Psicólogo e administrador com experiência no segmento organizacional e projetos sociais. Curioso, observador e disposto a ajudar as pessoas buscarem respostas para suas questões. Acredita no potencial do ser humano.