A pandemia não nos roubou a capacidade de planejar

O começo de um novo ano vem cheio de expectativas e promessas, 2020 não poderia ter sido diferente. Mas, acredito que o que não imaginávamos, era vivenciar a maior crise contemporânea da humanidade: a pandemia causada pelo coronavírus.

Foto: STIL / Unsplash

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A vida virou do avesso e como diria Milton Nascimento: “Nada será como antes”. Estamos no quarto mês do ano, no terceiro mês de enfrentamento global do COVID19 e, aqui no Brasil, no mínimo há 20 dias e no máximo a 35 dias em isolamento social e convivendo com uma avalanche de sentimentos como o medo, insegurança e tristeza.  Essa é uma extrema mudança comportamental para a maioria das pessoas, pois não é ficar em casa (muitos amam) e sim, ser obrigado a ficar em casa. Perdemos um direito básico, o de ir e vir. 

No Instituto Bem do Estar, acreditamos que sairemos dessa experiência mais fortalecidos como humanidade, pois é destino do ser humano ser “HUMANO”. Esta pandemia esgarçou a nossa capacidade de realizar, no momento, muitos de nossos planos, mas não rompeu com a nossa capacidade de planejar - ao contrário, fortaleceu, mesmo que você não se dê conta.

Perguntei para nossa equipe qual seria o primeiro plano pós quarentena e as  respostas mostram duas necessidades, claras: a presença do outro e de sair do automático para viver o agora. 

Camila, nossa conselheira, disse que assim que o isolamento acabar, irá pegar qualquer meio de transporte possível e irá para Curitiba ver os sobrinhos que mudaram dias antes de tudo isso começar. Outra conselheira, a Betânia, contou que irá direto para Paraty, tomar um belo banho de mar, respirar aquela energia e encontrar amigos. Milena, co-fundadora do Bem do Estar, não vê a hora de conhecer sua sobrinha que nasceu e não pode conhecer ainda. 

Já Sofia, uma voluntária, foi enfática e certeira: “quero retomar o meu trabalho”, mesmo um dos conselheiros, Fabio, que diz não ter tido tempo para planejar - é pai do pequeno Leo - pensou em ver pessoas, sair para um barzinho. 

Ah e eu não podia deixar de dividir o meu plano, que na verdade são três e, são frutos do olhar para dentro, da saída do automático de algum tempo atrás e que somente se fortaleceram, no agora. O primeiro é correr, correr e correr muito, pois desde que parei de fumar (5 meses e meio) esse virou meu vício e a abstinência não está fácil. Depois (ou ao mesmo tempo - será que corro 400Km? Acho que não, então terá que ser de carro mesmo) ir visitar meus pais, a saudade grita. E por último e não menos importante cozinhar para meus amigos, com direito a abraços longos, de mais de 20 segundos - pois já é comprovado, pela neurociência, que estes produzem ocitocina gerando efeito terapêutico sobre o corpo e mente.

Cuidando Bem do seu Estar

Ao olhar para as respostas acima e do restante da equipe, percebemos que a pandemia está nos convidando a pensar melhor em nossos planos e nos dando a oportunidade de nos reconectar - conosco e com os outros. Mas como parar para cuidar de nós em meio ao tsunami de informações e do medo diante do futuro incerto? 

Separe alguns minutos no final de cada dia para escrever e refletir sobre a maneira como despende  o seu tempo com cada atividade, desde a meia hora que ficou enviando e-mails, até às duas horas assistindo Netflix. No final da semana, observe o tempo gasto com cada atividade e perceba quais os sentimentos você tem com cada uma delas e, principalmente, o que sente falta. 

Muitas atividades consideradas “simples” poderiam ser executadas em menos tempo, caso não houvesse outra distração. Será que se você praticar atenção plena, ou seja, fazer uma única atividade com total atenção nela, você não ganharia mais tempo para praticar algum exercício, ler um livro ou qualquer outra atividade que te traga prazer? Pense nisso, lembre-se que não adianta se “atolar” de tarefas e não separar um “respiro” para você. Uma mente saudável e descansada produz bem mais que uma exausta.

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Isabel Marçal 

Especialista em gestão de projetos sociais, com 15 anos de experiência no setor de Impacto Social e, no momento, especializando-se em psicanálise. Apaixonada pela vida, seres humanos e suas relações. Sonha com uma sociedade mais saudável e justa, por isso, acredita que o primeiro passo esteja na consciência individual de cada ser humano.  Atualmente é presidente e cofundadora do Instituto Bem do Estar.